J. B. Pontes (*)
O desgoverno Bolsonaro, além de outras ações nefastas praticadas contra o País, notabilizou-se pela difusão em massa de mentiras (fake news) e a destilação de ódio contra seus opositores, que resultou na fanatização de uma significativa parcela da sociedade.
Para essas pessoas, as mentiras difundidas pelas redes sociais foram consideradas leis, e toda prova de que não eram verdades passou a ser por elas refutada com vigor. Alimentadas por mentiras e ódio, passaram a viver num mundo paralelo de fantasia, de loucura inexplicável, rejeitando agressivamente a realidade.
E isso só poderia desaguar nas cenas de terror, destruição e atentados à democracia registradas em Brasília no fatídico dia 8 de janeiro, protagonizadas por uma turba de radicais de extrema direita, que invadiu, saqueou e destroçou as sedes dos Poderes da República.
E o que esses bolsonaristas radicais defendiam? Intervenção militar, a volta da ditadura, de triste memória, num flagrante atentado contra a democracia. Mais impressionante ainda é que parte dessa horda, manipulada por falsos líderes religiosos, marchava convicta de ser protagonista de uma guerra espiritual contra o mal e não de um vil atentado contra a democracia.
E nesse momento crucial para o Estado Democrático de Direito, os integrantes das Forças Armadas se mantiveram numa posição dúbia, que mais pareceu de complacência, ou até mesmo de cumplicidade, com os atos criminosos. Parecia até que ansiavam pelo caos, para que assim eles fossem convocados para saneá-lo e, em seguida, promoverem a tão sonhada ruptura almejada por Bolsonaro.
Essa atitude dos militares já vinha sendo notada bem antes, em especial pelo tratamento por eles dispensado aos acampamentos improvisados que essas mesmas hordas promoveram nas frentes dos quartéis e, em especial, do Comando do Exército em Brasília, com lamentações e pedidos de intervenção.
Esse comportamento dos militares demonstra que, passados mais de 30 anos da derrocada da vergonhosa ditadura, eles ainda estão ávidos pelo poder civil. E essa atitude está a exigir uma atenção especial dos Poderes da República e dos representantes do povo brasileiro, vez que cada vez se torna mais claro que eles – os militares – continuam a se considerar uma casta que paira acima da sociedade civil.
Os atos antidemocráticos, comissivos ou omissivos, eventualmente praticados por militares não podem ficar impunes, assim como os atos de indisciplina e insubordinação e aqueles que representem desrespeito às autoridades legitimamente constituídas, principalmente ao Presidente da República.
Deixamos escapar a oportunidade de fazer isso no final da ditadura militar, quando a sociedade brasileira se manifestou de forma contundente contra o poder totalitário exercido pelos militares por cerca de vinte anos.
Deixamos, naquele momento, de responsabilizar e punir as horrorosas práticas criminosas por eles praticadas. Ficou parecendo que a redemocratização foi uma concessão deles, quando na realidade foi uma exigência da sociedade brasileira.
Ao serem coniventes com os atos atentatórios à democracia, como tudo está a demonstrar, se torna evidente a necessidade de uma profunda reforma nas Forças Armadas, para transformá-las numa nova instituição, moderna, civilizada, menos onerosa e cumpridora do papel que lhe for reservado pela Constituição, consciente de que existem para servir à Nação e não para dominar o Estado.
Verdade é que a sociedade brasileira também precisa refletir e exigir uma profunda reforma política, de forma a que possamos contar no futuro com parlamentos mais bem qualificados, em substituição aos atuais, compostos por políticos corruptos e descompromissados com os interesses da Nação.
A redução drástica dos atuais privilégios e benefícios concedidos, assim como a redução do número de parlamentares poderá afastar oportunista e atrair pessoas realmente interessadas em defender os interesses do povo.
(*) Geólogo, advogado e escritor