Chico Sant’Anna
Em “Um Frevo Novo”, Caetano Veloso assegurava que a praça é do povo, referindo-se à Castro Alves, em Salvador. Na Asa Norte, a vingar as alterações que o GDF pretende fazer no Plano Piloto, projetado por Lucio Costa, três praças desaparecerão.
Atravessando o frevo, o Projeto de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB) dá fim aos espaços públicos nas EQNs 703/704, 707/708 e 709/710, transformando-os em lotes para prédios, não se sabe exatamente de quantos andares.
“Assim, o GDF extingue metade das áreas destinadas a praças da Asa Norte”, salienta o urbanista Frederico Flósculo. Segundo ele, em apenas uma das áreas foi edificada praça, “muito furreca”. As outras duas viraram estacionamentos. “É como se eles dissessem: vamos mostrar que praça é uma coisa ruim, feia”, complementa.
Flósculo lembra que em 2002, quando do concurso de revitalização da avenida W-3, do qual foi vencedor, projetou praças de qualidade. “Tinham anfiteatro a céu aberto, espaços idílicos e oníricos, boas para os idosos, crianças, adolescentes, skatistas, músicos, perfomistas”.
Sabotagem
Entidades representativas de moradores que entraram com representação no Ministério Público para suspender a tramitação do projeto do PPCUB suspeitam que essas três áreas foram pinçadas pela especulação imobiliária. “Esses locais já são visados, já foram visitados pelos espertalhões e lobistas. Essa transformação sabota a cidade”, conclui Flósculo.
Espaços melhoram a qualidade de vida
Na técnica urbanística, uma praça tem por objetivo propiciar às pessoas não apenas um local para o lazer, mas também para melhorar a qualidade de vida e de sociabilização. Se tiver jardins e árvores, ainda ajuda no combate à poluição e melhora o clima.
O Plano Piloto foi projetado a partir de quatro escalas: monumental, residencial, gregária e bucólica. A bucólica –ensinam os especialistas –, se constitui dos gramados, praças, passeios, bosques e jardins, que permeiam e envolvem os diversos setores e os conjuntos de casa e comércios locais.
É isso que dá a condição de cidade-parque a Brasília. Nas quadras 700 Norte, foram previstas sete praças. Mas, nos 62 anos de Brasília, o GDF vem se omitindo em consolidá-las, o que, na prática, significaria um passo a mais na conclusão do Plano Piloto.
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