Carlos Fernando (*)
Há duas semanas, o Governo do Distrito Federal anunciou 150 novos enfermeiros para atuar no acolhimento das Unidades Básicas de Saúde (UBS). A justificativa era “modernizar” a triagem de pacientes e “humanizar” o atendimento. Seis meses atrás, a explicação para a mesma medida era reforçar o atendimento a pacientes com sintomas respiratórios, provavelmente infectados pelo coronavírus.
As UBS, a própria Secretaria de Saúde do DF tem conhecimento disso, assumiram papel de atendimento de emergência aos casos de covid. Isto reforçou uma mudança no perfil do atendimento na atenção primária à saúde do brasiliense, que começou em 2017, no governo Rollemberg, e que merece maior reflexão tanto dos profissionais de saúde envolvidos quanto da população.
Até 2017, no governo Rollemberg, tínhamos a Estratégia Saúde da Família (ESF) e as equipes dos postos de saúde. As duas estruturas atuavam de formas diferentes e complementares. Simplificando: as equipes do Saúde da Família tinham maior foco no mapeamento dos grupos comunitários que atendiam, nas visitas domiciliares, além das ações de educação e prevenção e acompanhamento.
Nos centros de saúde, os pacientes tinham, perto de casa, atendimento com médicos especialistas em clínica médica, ginecologia e pediatria (as básicas), as quais conduziam programas de atenção continuada em situações específicas: tabagismo, hipertensão e pré-natal, por exemplo. Alguns ainda ofereciam mais atendimentos especializados. Isso desafogava os hospitais regionais que prestam assistência em nível secundário.
Acabaram com os atendimentos nas especialidades básicas nos postos de saúde, que passaram a abrigar as equipes da Estratégia Saúde da Família – muitas das quais sem médicos, sem agentes comunitários de saúde. Viraram “unidades básicas de saúde” e passaram a ter atendimento agendado e por demanda.
Acontece que o atendimento por demanda está ocupando todo o tempo da maioria das equipes. As UBS, com suas equipes de Saúde da Família, passaram a funcionar quase na mesma lógica das emergências dos hospitais – a chamada lógica hospitalocêntrica: com foco no lugar em que se faz a remediação (unidade de saúde), quando a doença já está instalada.
Puxa daqui, estica dali, estão fazendo com a ESF o que fazem nos hospitais do DF: puxadinhos para resolver a ineficiência da gestão. A preocupação não é prestar uma assistência adequada à população e, o que é mais complicado, subverte-se o padrão de funcionamento e a proposta do modelo de atenção primária à saúde. Para isso, usam artimanhas para burlar o controle e manter as linhas de financiamento do Ministério da Saúde.
Mas a política em si não resistiria a uma auditoria séria. A única coisa clara, na visão do atual ocupante do Buriti, para a prestação de assistência à saúde é a privatização. A prestação de assistência à saúde da população para o atual governo é apenas um problema do qual quer se livrar.
Precisamos de um governo que, ao contrário, se preocupe em garantir o direito à saúde ao nosso povo.
(*) Vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal