Carlos Fernando (*)
Passando pelo Setor Central do Gama, a gente se impressiona com a grandiosidade do Hospital Santa Lúcia, e quase não percebe, aos pés dele, o esqueleto do que foi o Centro de Saúde 8. Abandonado desde 2015, o prédio ocupa uma área nobre da cidade. Mas sua reforma, que nunca saiu – e já virou reconstrução –, é um monumento ao descaso do GDF com a saúde. A má gestão da saúde no DF deixa esqueletos e agita bandeiras.
O imóvel ocupa uma área de 3 mil m² e poderia abrigar uma policlínica que ajudaria a desafogar a emergência do Hospital Regional do Gama. Como acontece todo ano, desde que o prédio foi abandonado, este ano anunciaram novamente a retomada da obra: mais uma Unidade Básica de Saúde. Dizem!
Mas esbarramos aí em alguns problemas. O primeiro e mais importante é a falta de pessoal para fazer funcionar esse novo equipamento de saúde. O próprio HRG não funciona adequadamente por falta de profissionais. O atendimento da clínica médica, por exemplo, está contingenciado e permanentemente com restrição – a famigerada bandeira vermelha.
O presidente do Sindicato dos Médicos do DF, Dr. Gutemberg Fialho, denunciou há mais de um ano que não havia condição de funcionamento da unidade com o quantitativo de médicos clínicos existentes no quadro do hospital.
Pacientes internados passavam mais de três dias sem serem medicados em função da falta de pessoal e até casos de óbitos por desassistência ocorreram. O sindicato chegou a pedir ao Conselho Regional de Medicina a interdição ética no HRG, para evitar que mais vidas de pacientes fossem perdidas.
Por duas vezes a Secretaria de Saúde do DF afirmou que resolveria a situação com a contratação temporária de médicos clínicos. Avisamos que não resolveria, porque os salários estão defasados e as condições de trabalho assustam qualquer profissional, por mais comprometido que seja. Dos 15 contratados em setembro de 2021, ficou uma médica, que não vai renovar o contrato este ano.
Em abril deste ano, diante da ameaça de interdição ética, foram contratados outros 15 temporários – sem que fossem corrigidos os problemas apontados pelo SindMédico-DF. Obviamente, a maioria dos contratados (os poucos entre os aprovados que assumiram as vagas) já desistiram. Sobraram cinco dos 15 novos contratados. E não vão permanecer.
Voltemos ao abandonado Centro de Saúde 8 do Gama: de que adianta a reforma do prédio se não há profissionais suficientes nem para preencher os postos de trabalho vagos nas unidades de saúde já existentes? E médicos de família e comunidade são ainda mais difíceis de contratar do que clínicos, que existem em maior quantidade no mercado de trabalho.
Por duas gestões o GDF cometeu o absurdo de deixar abandonado um equipamento de saúde importante para a comunidade e continua errando, porque anuncia a reconstrução sem planejar adequadamente o pleno funcionamento da unidade que eventualmente será reinaugurada – se a obra sair do papel.
O desperdício e a falta de planejamento pelo GDF são, assim, escancarados a toda a comunidade do DF, cada vez que anunciam a retomada da obra da UBS 8 e cada vez que se levanta a bandeira vermelha na emergência do HRG.
E é tudo questão de organização, planejamento e uso responsável dos recursos públicos arrecadados em impostos que cada um de nós paga ao Estado.
(*) Vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal