J. B. Pontes (*)
Além do orçamento secreto (Emendas RP9) de R$ 16,5 bilhões, do Fundo Eleitoral de R$ 4,9 bilhões, do Fundo Partidário de R$ 1,1 bilhão, das Emendas Individuais de R$ R$ 10,9 bilhões (cada parlamentar, em 2022, pode emendar até R$ 17,6 milhões), das emendas de bancadas estaduais e distrital de R$ 7,5 bilhões, o que totaliza R$ 40,9 bilhões, os parlamentares do Centrão ainda não ficaram satisfeitos.
Os novos escândalos da compra superfaturada de caminhões para coleta de lixo, tratores e ônibus escolares demonstram o avanço do Centrão sobre o orçamento de diversos órgãos do Poder Executivo. No Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), comandado por um afilhado do ministro Ciro Nogueira (Progressistas), estava sendo realizada licitação, felizmente suspensa, para compra de ônibus escolares com sobrepreço de R$ 700 milhões.
A qualidade do gasto público nunca foi tão ruim como no atual desgoverno comandado pelo Centrão, do qual Bolsonaro faz parte. A falta de planejamento e, por consequência, de prioridade na aplicação dos recursos públicos é incontestável. Dinheiro que poderia ser usado na previdência e assistência social, na educação e na saúde públicas. O dinheiro público está sendo usado somente em ações com muita visibilidade, capazes de angariar votos para os políticos do Centrão.
A compra e distribuição de coletores de lixo para pequenas cidades cresceram, de 2019 para 2021, de 85 unidades para 488. Pior: a distribuição não obedece a critérios técnicos de necessidade desses equipamentos pelos municípios, mas sim àqueles políticos/eleitoreiros.
Essa operação é bastante vantajosa, sob vários aspectos, para políticos e empresários corruptos. Por um lado, os empresários apoiadores do desgoverno desencalham seus estoques por preços inflados, o que rende um bom retorno em propina para os autores da compra. Na outra ponta, nos pequenos municípios, a distribuição desses equipamentos rende apoio e votos para políticos do Centrão.
Seguros da impunidade, em face da inação dos órgãos de controle (TCU, CGU, MPF), quase todos aparelhados, o Centrão age às claras. O município de Barra de São Miguel/AL, por exemplo, governado por Benedito de Lira (Progressistas), pai do presidente da Câmara Arthur Lira, que tem apenas 8.434 habitantes, já ganhou três grandes caminhões coletores, que ficam quase sempre parados, por falta de lixo para coletar. O município vizinho de Maribondo (13.193 habitantes) não tem nenhum equipamento, malgrado os constantes apelos da prefeita Leopoldina Amorim (PSD).
Especialistas orientam que esses equipamentos, caros e de difícil manutenção, não deveriam ser usados por municípios com menos de 17 mil habitantes, nos quais o emprego de caminhões caçambas seria mais apropriado.
É inegável que a coleta de lixo é uma ação importante. E que a adequada disposição final dos resíduos é igualmente relevante. Mas esta não tem visibilidade. Por isso, os resíduos urbanos, na maioria dos municípios, continuam sendo depositados em lixões a céu aberto, o que causa a degradação ambiental do solo, das águas e do ar.
É triste a situação do nosso país, entregue nas mãos de verdadeiras quadrilhas. E o povo continua calado! Por isso, continuamos a afirmar que, se o povo tivesse um mínimo de discernimento da realidade, jamais votaria em candidatos dos partidos do Centrão: PL, PP, Solidariedade, PTB, União Brasil (fusão DEM-PSL), PSD, MDB, PROS, PSC, Avante, Patriota.
(*) Geólogo, advogado e escritor