Maria Félix Fontele (*)
Inspirados nas oficinas do projeto A arte do cordel, os alunos do quinto ano da Escola Classe 15 de Ceilândia produziram, coletivamente, em abril, o Cordel da saúde, influenciados pelas aulas de rimas, métricas, leitura e interpretação de texto ministradas pelo professor Raimundo Sobrinho, coordenador do programa.
Durante algumas semanas, os estudantes se debruçaram sobre o tema “saúde e seus vários aspectos, especialmente na área de prevenção”, conta a professora Viviane Pereira da Silva. “A escola criou o projeto EC-15 – Cada um cuidando da saúde de todos, mostrando que a atenção com o outro é obrigação, sobretudo durante uma pandemia”, afirma Viviane, ao lembrar que diversos jovens relutavam, por exemplo, em usar as máscaras.
Segundo ela, as oficinas de cordel do professor Raimundo, com seu conteúdo rico e dinâmico, contribuíram para a mudança de visão dos estudantes quanto à possibilidade de escreverem versos.
“Muitos tinham dificuldades com rimas, mas quando aprenderam como fazer, ficaram entusiasmados, e o projeto deslanchou, resultando no Cordel da saúde e em outras poesias”, ressalta. Outros fizeram cordéis do Dia das Mães e levaram para casa, em homenagem às suas mães.
Abrindo portas
A professora diz que a literatura de cordel abriu as portas para a realização de outros projetos, como é o Brasília de todos os cantos, a ser iniciado em breve com a participação de escritores do Distrito Federal, que serão convidados para ler seus textos e poesias em eventos organizados pela escola.
As atividades não param por aí. “Nessa onda boa, de incentivo às práticas da leitura e da escrita, estamos iniciando também um trabalho de produção de acrósticos”, informa Viviane, destacando que essas iniciativas têm melhorado a compreensão de mundo dos estudantes.
Bom exemplo
A EC 15 de Ceilândia é um dos exemplos bem-sucedidos do projeto a Arte do Cordel, iniciado em 2019 com o nome A Magia do Cordel, desenvolvido em várias escolas. A cada ano, ele tem sido renovado e já se tornou uma das referências da cultura da cidade em sala de aula.
Desde então, já foram ministradas 76 oficinas em mais de 20 escolas da Ceilândia, atingindo cerca de 3.300 alunos, a partir do quinto ano do ensino fundamental. A Escola Polo de Surdos da Ceilândia, no Centro de Ensino Médio 2, também recebeu oficinas de cordel, com o apoio da professora Rute Vilela, que interpretou a eles, em Libras, todo o conteúdo explanado.
Para Raimundo Sobrinho, é sempre um desafio levar literatura para os estudantes em um mundo altamente tecnológico. “Porém – diz ele – é necessário e percebo os olhos deles brilharem com a harmonia sonora das rimas neste universo tão importante que é a literatura de cordel”.
Cada oficina tem a duração de uma a duas horas, cujo conteúdo envolve a leitura de cordéis, a exploração do gênero, bem como a elaboração e a revisão de textos. O projeto, apoiado pelo Fundo de Apoio à Cultura (FAC/DF), conta com intérprete de Libras, de acesso a pessoas com deficiência auditiva.
CORDEL DA SAÚDE
Autoria: Coletivo dos alunos do 5° ano da EC 15
Hoje viemos aqui
Para falar de saúde
Devemos nos prevenir
E ter muita atitude
Pra não ficarmos doentes
E sempre ter juventude
Se você estiver doente
Em casa é melhor ficar
Tomando seu remédio
Para logo melhorar
Tenha responsabilidade
Para o vírus neutralizar
Um cuidando do outro
Assim é que tem que ser
Juntos somos mais fortes
Para podermos vencer
Se todos colaborarem
Não iremos perder
Vacina pra todo mundo
Pra ninguém mais morrer.
(*) Jornalista – Especial para o Brasília Capital