Niemeyer rascunhou croqui onde hoje está o Panteão da Democracia
Chico Sant’Anna
Emoldurada pelas sedes dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo, a Praça dos Três Poderes por pouco não abrigou uma Catedral Matriz. Oscar Niemeyer chegou a rascunhar um croqui em que situava a igreja onde hoje está o Panteão da Democracia. A revelação é da revista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em artigo do pesquisador Diego Viana.
Seguindo a tradição do urbanismo ibérico, as mais antigas cidades brasileiras são construídas em volta de uma praça com uma igreja. Na América espanhola, era chamada de “a praça de armas”. Ali se estabeleciam a coroa, a igreja e o exército.
Discretos esboços
O Plano Piloto de Lúcio Costa rompeu com essa lógica, mas por pouco ela não prevaleceu. Viana relata que os arquitetos Rafael Urano Frajndlich, da faculdade de Engenharia Civil da Universidade de Campinas (Unicamp), e Alexandre Benoit, da faculdade de Arquitetura Paulistana, localizaram na biblioteca de Oscar Niemeyer “discretos esboços”, feitos a lápis, da praça dos Três Poderes.
Os croquis foram rabiscados na folha de rosto de uma edição em francês de Guerra e Paz, do escritor russo Liev Tolstoi (1828-1910). Niemeyer desenha uma semiesfera de boca para cima – parecida com a cúpula da Câmara dos Deputados – com uma cruz ao centro.
“Lúcio Costa é enfático ao afirmar que a igreja deveria estar fora da praça dos Três Poderes, porque no Brasil a religião é separada do Estado”, relata Urano Frajndlich. Assim, a Catedral migrou para a ponta oposta da Esplanada. E ganhou um formato bem diferente do desenhado no livro.
O projeto que prevaleceu, reconheçamos, é bem mais bonito e criativo.