Fátima Sousa (*)
O cruel assassinato do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe exige uma ação rápida e severa do poder público do Rio de Janeiro. É preciso não apenas identificar, mas punir com rigor o ato doloso e sem espaço para defesa praticado contra um jovem de 24 anos, que foi cobrar R$ 200 por duas diárias de trabalho não pagas. Nada justifica o espancamento que ele sofreu. E palavras de indignação já não bastam para responder à violência que assola o País e abate, especialmente, pessoas imersas nas minorias: pobres, pretos, subempregados, LGBTQIA+ e outros.
Presos os suspeitos, é preciso agilizar a investigação e garantir punição exemplar e sem brecha para liberdade. É momento de decisões pedagógicas, para frear a violência e reeducar segmentos que, na expectativa da impunidade de sempre, praticam atos como aquele. A dor da família do Moïse não pode ser menosprezada. Que seja feita justiça! E que cada um de nós possa agir por um Brasil melhor para todas, todos e todes. Por ele e por tantos outros que, antes dele, foram vítimas de crimes não esclarecidos.
Mudanças necessárias
Como brasileira e defensora dos direitos humanos, eu me recuso a aceitar que esse seja o Brasil possível para nossos irmãos refugiados. Não aceito este país não proteja sequer o cidadão que nasceu aqui e ajudou a construir a sua história. Venho somar forças, e oferecer minha voz, aos movimentos que tenham esperança de promover as mudanças necessárias para fazer do Brasil, de fato, um lugar acolhedor, com políticas públicas inclusivas e uma sociedade focada no bem-viver de todos.
A barbárie noticiada em toda a mídia expõe questões que para muitos sequer são problemas. Nossa sociedade vive anestesiada, absorvida pela falta de perspectivas e empatia. Racismo, xenofobia e precarização das relações de trabalho são as mais evidentes questões escancaradas pela tragédia do congolês.
É mais um caso gerado pelo histórico do Brasil, mas também dos estímulos à violência por parte do desgoverno e dos tempos sombrios que vivemos, em que faltam políticas para o bem-viver e se espalham movimentos para a instauração da sociedade do medo.
(*) Enfermeira sanitarista, professora da Faculdade de Ciências da Saúde da UnB