Imagine um jogo de xadrez com dois tabuleiros. Um sobre o outro. São jogos autônomos, mas não independentes. Um movimento no tabuleiro de cima interfere na estratégia do de baixo. A simultaneidade das eleições estaduais e nacionais transformou o pleito num jogo com essas especificidades. Esse jogo de xadrez existe: chama-se xadrez quântico.
No xadrez quântico eleitoral brasileiro, o tabuleiro presidencial – o de cima – afeta os jogadores do de baixo. As candidaturas de Lula (PT), Ciro (PDT), Moro (Podemos), Bolsonaro (sem partido) e do nome que vier do PSDB impõem a necessidade de correligionários no DF. Não há como não ter um palanque local no tabuleiro de baixo que sustente o candidato nacional.
A decisão de Bolsonaro de adiar – ou desistir – de se filiar ao PL fez alguns pré-candidatos candangos respirarem aliviados – pelo menos, por enquanto. Se o presidente entrar no PL, uma candidatura local própria teria que ser organizada, e o nome mais forte seria Flávia Arruda. Concorrendo ao GDF, ela enfraqueceria Ibaneis, que a deseja na sua chapa como candidata ao Senado.
Reguffe
Reguffe (Podemos) também seria afetado, mas não são claros os efeitos. Pela similitude de campo político, Flávia tanto poderia tirar Reguffe do segundo turno, quanto Ibaneis, hoje líder nas pesquisas. A presença dela também desidrataria Izalci (PSDB), ex-vice-líder do Bolsonaro no Senado.
Com Flávia no tabuleiro de baixo, Bolsonaro ganharia estrutura no DF e atrairia votos que sem a candidatura dela poderiam migrar para Ibaneis, Izalci, Reguffe ou outro nome de direita ou centro-direita. Felizes ficariam os potenciais candidatos à vaga ao Senado. Sem a presença da esposa do ex-governador Arruda, as chances de vitória ficam mais equilibradas.
Sérgio Moro
Sérgio Moro se postou no tabuleiro de cima. Isso afeta Reguffe. O senador, que vem fazendo prestação de contas de mandato em reuniões regionais e panfletando nas esquinas da cidade, ganharia um selo de “morista”, “lava-jatista”. Isto afastaria os eleitores bolsonaristas e os de centro-esquerda.
A presença do ex-juiz no tabuleiro de cima não traz conforto para o debaixo. Analistas especulam a possibilidade de até março Reguffe sair do Podemos. Ele já entabula conversas com o PSB e o PDT. No PDT, daria palanque forte para Ciro no DF. Seu vice poderia ser o ex-presidente da Câmara Distrital, Joe Vale. Se a opção for o PSB e no andar de cima os socialistas fecharem com Lula, o palanque ganharia tons rubros, que não é a coloração tradicional do eleitorado de Reguffe.
O destino de Reguffe também poderia ser a Rede. Embora tenha pouquíssimo tempo de TV, o partido teve sua visibilidade ampliada com a atuação de Randolfe Rodrigues na CPI da Pandemia. E promete trazer a ex-senadora Heloisa Helena (AL) para disputar pelo DF uma vaga na Câmara Federal.