Leonel Rocha (*)
O diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, defendeu nesta terça-feira (5), em audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado para tratar da mistura do biodiesel ao diesel do petróleo, o banimento do diesel S 500. Este combustível de origem fóssil representa 45% do consumo nacional e é responsável por lançar uma grande quantidade de enxofre na atmosfera.
“O Brasil utiliza um diesel que provoca poluição, causa doenças e mata pessoas. Adversário do biodiesel é adversário da vida”, disse Tokarski. “Essa discussão deve ser travada para os cidadãos, e o que vimos nessa coalizão que se apresentou aqui contra o uso do biodiesel na mistura do diesel foi mais defendendo as máquinas. Temos que nos preocupar com o entupimento das veias das pessoas que sofrem com a poluição causada pelos combustíveis fósseis”.
O dirigente da Ubrabio citou a Organização Mundial da Saúde (OMS), que constatou mais de 50 mil mortes no Brasil em 2018 e milhões de internações por doenças causadas pela poluição veicular, obrigando o Ministério da Saúde a gastar R$ 22 bilhões para tratar pacientes com estas enfermidades. Em todo o mundo morrem precocemente cerca de 7 milhões de pessoas pelas mesmas causas.
Segundo Tokarski, além de poluir a atmosfera, o diesel S 500 também tem elevado o teor de enxofre na água, o que demonstra a baixa qualidade do produto. “Isto demonstra que os problemas de qualidade no diesel vendido ao consumidor não podem ser atribuídos ao biodiesel. O consumidor utiliza o diesel misturado e não biodiesel puro”, lembrou.
Justificativa inócua
Ele ressaltou que antes da mistura obrigatória do biodiesel ao diesel de petróleo, o índice de conformidade do combustível era de 10%. Com a entrada do biodiesel no mercado, o índice de conformidade medido pelos órgãos públicos subiu para 97%.
O dirigente da Ubrabio refutou afirmações de representantes da indústria automobilística, da produção e distribuição de combustíveis fósseis de que o biodiesel provoca problemas mecânicos nos motores com o uso de percentual de mistura acima de 10%.
E citou o exemplo dos EUA, onde, a depender do estado e da estação do ano, há uma variação de 5% a 20% de mistura de biodiesel ao diesel fóssil que abastecem os mesmos veículos e equipamentos utilizados no Brasil. “Em Minnesota, no período mais frio eles misturam 5% e no período quente 20%”, exemplificou.
Levantamento da Ubrabio revela que é inócua a justificativa do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de reduzir o percentual de mistura para amenizar o impacto do preço do óleo de soja na produção do biocombustível. A variação média de preço do diesel B entre postos de abastecimento do Mato Grosso, por exemplo, chega a 19%, enquanto que o percentual de redução do preço final do diesel com o corte no volume de biodiesel é de menos de um por cento.
“O que vale mais para a sociedade, o impacto de menos de 2% no preço final do diesel ou todos os benefícios que valorizam o cidadão e o emprego? Temos que considerar o valor e não apenas o preço do biodiesel e sua contabilidade socioeconômica e ambiental”, questionou. A Ubrabio defende a manutenção da programação da mistura de biodiesel ao diesel fóssil prevista na lei e que deveria ser de 13% este ano, 14% no próximo ano e de 15% em 2023.
Industrialização
Na sessão da comissão presidida pelo senador Welington Roberto (PL-MT), Donizete enumerou os benefícios de toda a cadeia de produção do biodiesel para a economia, com investimentos acumulados que chegam a R$ 9 bilhões em mais de 50 plantas industriais espalhadas pelo interior do país, geração de emprego e renda, além do envolvimento de 300 mil trabalhadores da agricultura familiar que fornecem matérias primas para a produção do biocombustível.
Donizete Torkarski também abordou os benefícios do biodiesel para a segurança energética, com a oferta de mais uma opção de combustível e garantia da produção de alimentos com a maior oferta de farelo de soja para alimentação de animais e produção de proteínas, agregando valor a importantes setores do agronegócio. “Estamos tratando aqui de um biocombustível que representa desenvolvimento nacional, saúde e geração de emprego e renda”, concluiu o dirigente da Ubrabio.
A sessão da comissão presidida pelo senador Wellington Fagundes (PL-MT) também contou com a participação do Coordenador Geral do programa Renovabio, Fábio Vinhado, do senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), do presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, da diretora da ANP, Symone Araújo, dirigentes de entidades do setor de transportes, Anfavea, distribuição e revenda de combustíveis e dirigentes de outras entidades do setor de biodiesel.