Maria Félix Fontele, especial para o Brasília Capital
O Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caic) Bernardo Sayão, de Ceilandia Sul, reabriu as portas aos seus mais de mil estudantes para as aulas presenciais com os espaços reformados e revitalizados.
A escola ficou mais colorida com a pintura das paredes, reformas do ginásio e do pátio de recreação, entre outras restaurações, além de investir em medidas de prevenção à covid-19, a fim de impedir a contaminação.
A diretora Crystiane Sena confirma que, dois meses após o retorno às aulas presenciais, o balanço é positivo. Segundo ela, apenas três casos da doença foram registrados naquela comunidade escolar, e as medidas de contenção foram tomadas imediatamente, de modo que o vírus não se alastrasse.
Ela observa que os alunos, oriundos em sua maioria de famílias de alta vulnerabilidade social, são instruídos diariamente quanto aos cuidados de prevenção, como a higienização das mãos, aferição da temperatura e distanciamento social.
As oficinas ministradas pelo professor Raimundo Sobrinho, do projeto Cordel e Seus Encantos, também têm motivado os estudantes para se cuidarem fora e dentro da escola.
Agora, mais do que nunca, segundo atestam os professores, as aulas de arte, de literatura e, em especial do cordel, são essenciais para a manutenção da autoestima dos alunos, de modo que assimilem esse momento com mais leveza e boas reflexões.
Crystiane Sena lembra que a “escola está mais silenciosa”, já que funciona de forma híbrida: numa semana a metade da turma estuda em casa e a outra na escola. Mas ela adianta que esse silêncio é bom porque “os estudantes estão mais respeitosos uns com os outros e isso com certeza vai ficar”.
Interação
A professora do quinto ano, Polyanna Gracês, destaca que, neste momento de pandemia, as aulas de cordel têm um significado maior. “Além de levar beleza, divertimento e poesia, o cordel nos aproxima das pessoas no período de distanciamento”.
Jéssica Oliveira Amaro, também professora do quinto ano, afirma que as oficinas de cordel têm contribuído para a melhoria dos trabalhos de interpretação de textos, no conhecimento de novas palavras, no estímulo à criatividade e na concentração dos alunos na organização de ideias. “E ainda ajudam na interação uns com os outros, pois leem e se divertem juntos”, observa.
Poucos casos – Diretor da Escola Classe 45, o professor Fernando Tiago de Souza Santos informa que nesses dois primeiros meses de ensino híbrido as 97 escolas da rede pública de Ceilândia registraram 148 casos de covid.
“Em um universo de quase cem mil pessoas, há que se comemorar”, observa. O diretor salienta que a rotina de atividades em salas de aula nunca foi deixada de lado, mesmo no ensino remoto. “As atividades sempre são iniciadas com a magia de uma história, com a leitura no centro do universo infantil”.
Cordel alimenta o gosto pela leitura
Fernando Santos destaca que “o cordel faz um link com a linguagem contemporânea do hip hop, e as crianças terminam por descobrir essa conexão, gostando do ritmo, das rimas e se interessando em ler e em escrever”. Ele lembra que os 130 estudantes dos quintos anos da EC 45 estão fascinados com as possibilidades criativas da língua portuguesa.
“Os diferentes estilos textuais são muito apreciados e há que se destacar o fascínio com as oficinas de cordel, pois o Nordeste, como realidade familiar, conecta a criança com uma forma de se expressar muito familiar para ela”, ressalta o professor, ao comemorar, também, a reforma física da escola, a qual trouxe mais cor e satisfação aos alunos e professores no retorno às aulas presenciais.
As oficinas
Neste ano, o projeto coordenado e apresentado pelo professor Raimundo Sobrinho já ministrou 20 oficinas de escrita, leitura, declamação e audição de cordel em sete escolas públicas de Ceilândia.
O projeto, iniciado em 2019 com o nome de A magia do cordel, desenvolveu 49 oficinas até 2020, envolvendo, desde então, principalmente estudantes do ensino fundamental e, em menor quantidade, os do ensino médio.
Em função da pandemia, foram realizadas 15 oficinas on-line, atingindo cerca de 800 alunos. Neste ano, o projeto retorna com o nome de O cordel e seus encantos. No total, mais de 3 mil alunos já foram contemplados com as oficinas.
“É um trabalho gratificante, pois percebo o brilho nos olhos dos estudantes, com aquela sede e curiosidade de conhecerem o novo”, ressalta Sobrinho. Segundo ele, o retorno às aulas presenciais tem sido muito gratificante e também desafiante.
“A empolgação é a mesma, pois acreditamos na transformação dos estudantes por meio da leitura. Sei que o uso de máscara é um tanto quanto difícil, mas é sumamente necessário para que todos nos preservemos do vírus”.
Um tal de coronavírus
Maurício Dias Gomes Chaves de Melo (*)
Na China começou
Um desafio para a ciência.
Um tal de coronavírus
Que mata sem clemência.
Causando isolamento
Testando nossa paciência
No início ninguém ligava
E o vírus se espalhou.
Quem ficou muito tranquilo
Depois se preocupou.
Vimos milhares de mortes
Que a doença causou.
O vírus devastador
Mata o rico e o pobre.
Criança ou adolescente
Seja plebeu, seja nobre.
Não importa a riqueza
Dinheiro, ouro ou cobre.
Para o adulto é difícil
Ficar no isolamento.
Para o adolescente
É um terrível momento.
Para a criança também
É desespero e tormento.
Passado mais de um ano
Que estamos em quarentena.
Muitos não usam máscaras
Na rua vemos esta cena.
O vírus se propagando
É impiedoso sem pena.
O que restou para nós
Abusar do álcool em gel
A máscara é indispensável
Contra o vírus cruel
Que transformou nossa vida
Em um grande carrossel.
(*) 14 anos, aluno do 8° ano do Ensino Fundamental do Colégio Tiradentes (Setor P Sul de Ceilândia), um dos vencedores do I Prêmio Candanguinho de Poesia – A Mala do Livro, uma viagem pela leitura, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF. As trinta crianças e adolescentes campeãs receberam certificados e prêmios previstos no edital