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Geral

A pólvora e a chama

  • Redação
  • 06/07/2021
  • 11:52

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A pólvora e a chama. O mar e o mergulho. Café com leite. Queijos e vinhos. Romeu e Julieta. Ele e Ela. Algumas combinações são clássicas. Algumas, pelo estrago que podem causar ao se encontrarem; outras, porque parecerem ter sido feitas uma para a outra. Complementares. Essas partes parecem procurar pela parte complementar durante a vida. Um é o cálice, o outro o vinho. Separados são bons. Mas juntos são festa, química, sabores, sensações. Sozinhos são pontos. Juntos reticências.

Ela tão solta. Ele tão sóbrio. Eles tão perigosos juntos. Não se conheciam, ainda. Ainda não se sabiam tão seus. Antes da morte, o tiro; antes do tiro, a bala; antes da bala, a pólvora, o estalo. Foram atingidos. Abatidos. E o interessante é que essa morte é melhor que a vida. Explico.

Ele já havia saltado todos os muros, viajado por muitos países e mulheres. Já havia corrido riscos calculados. Todos os crimes já prescritos, outros perdoados. Ele passeava pelas ruas com uma quase arrogância de quem conhece cada beco escuro, cada ponto luminoso das cidades. Um caçador. Um pobre caçador que ainda não se sabia caça.

Desfilava sem medo entre conquistas e abandonos. Uma força da natureza não sabe o poder que tem, o estrago que pode causar, o espetáculo. Era um tenor que ainda não havia cantado. Não se conhecia. Não se sabia. Apenas se supunha. Tinha garras afiadas. Sabia voar. Enxergava no escuro. Desenvolveu habilidades na guerra. Pernas e braços fortes. Ambivalente. Mais frágil que seda. Uma armadura impenetrável foi criada nas suas batalhas internas. Por dentro, sofisticadamente suave, delicada.

Naquele fim de tarde estava cansada do peso. Deixou a armadura e saiu com a pele exposta. Pernas de fora, decote, desceu do salto. Saiu para se molhar. Inteira. Por fora molhada, por dentro úmida. Perigosa. Um risco sem aquela armadura. Ela ainda não sabia, mas a armadura não a protegia, protegia os outros. Não se conhecia. Não se sabia, ainda.

Encontraram-se. Primeiro ele com ele. Decidiu apenas aproveitar o encontro quase que às cegas consigo. Sentou-se à mesa só, como não era costume. Enfim, pela primeira vez não estava solitário. Descobriu-se na própria companhia. Ela com ela. Sem salto. Distraída, saiu sem pressa, na chuva. A água escorrendo pelo corpo parecia tirar qualquer suposta proteção. Cabelos molhados. Sorriu distraída, de verdade; sorriu de si, para si. Sorriu por dentro. Encontrou-se.

Sentou-se para um café. Queria algo quente. Ele também, algo quente. Queria ela. Olharam-se. Estavam desnudos. O restaurante movimentado e eles ali completamente nus um de frente para o outro. Os olhares são sempre denunciadores. Com a calma necessária que se avalia uma presa, os dois se estudaram por instantes. O sorriso é a chave, prenúncio do ataque. O flerte.

Encontraram-se. A conversa fluía como se fossem dois antigos parceiros, não amigos. Era maior que isso. Era como se um soubesse do crime do outro e planejassem uma grande operação juntos. Mas em silêncio. As partes. As pessoas buscam suas complementações perfeitas. Buscam tanto que se habituam a procurar, mas nem sempre estão prontas para encontrar.

O encontro é a morte da busca. Eles estão queimando. Ardendo em chamas. Ele quente, teso; ela quente e úmida de amor. Segredos compartilhados. O beijo. O tiro. Arrebatados. Silêncio, o mundo todo parado e eles em outra dimensão. Devassa, ela; lascivo, ele. A voz dele no ouvido dela anunciando um beijo, a voz dela perguntando seus segredos.

Não há mais lugar seguro no mundo para eles. Foram descobertos. Encontraram-se. Arrebatados nessa pequena morte que é melhor que a vida.

(*) Escritora

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