Ary Filgueira (*)
A caçada policial ao psicopata e assassino em série Lázaro Barbosa de Sousa, 32 anos, que completou 15 dias na quarta-feira (23), mudou a rotina dos moradores de duas cidades do Entorno do Distrito Federal: Águas Lindas e Cocalzinho, em Goiás.
Mas não é somente a presença do mateiro que se alimenta do assassinato de pessoas de origem simples e de bichos exóticos que assusta a população das duas localidades. Líderes de religiões de matriz africana decidiram encerrar suas reuniões e rituais, não por medo do criminoso, mas por medo da polícia.
A decisão radical vem depois que a força-tarefa composta por policiais civis, militares, federais e rodoviários concentraram as buscas de pistas pelo paradeiro de Lázaro nos terreiros de Umbanda e Candomblé situados, principalmente, nos distritos de Girassol e Edilândia, que pertencem a Cocalzinho e Águas Lindas.
Indícios – Isso porque o assassino deixou para trás insumos e indícios que podem liga-lo a alguma religião de matriz africana. O material foi encontrado em meio às buscas ao serial killer em Edilândia. Foram achadas oferendas e velas supostamente deixadas por Lázaro, acompanhadas de um pedaço de papel com o nome do criminoso.
Após esse achado “arqueológico” – que é até agora a maior “prova material” que os policiais têm desse ensaboado maníaco, que já fugiu do cerco policial, inclusive depois de trocar tiros com a polícia –, algumas forças policiais convergiram seu foco para os terreiros de Umbanda e Candomblé.
Parte dos 270 agentes das forças ligadas às secretarias de segurança de Goiás e do DF teria invadido esses locais de orações e usado a truculência para arrancar confissões de qualquer pista que os levassem a Lázaro. Pelo menos dez templos foram alvo da operação policial desde que Lázaro Barbosa começou a ser procurado na região.
Babalorixá pede respeito
“Eles só faltaram entrar na caixa d’água. Um total desrespeito”, reclama ao Brasília Capital o babalorixá Fernando de Odé, dono do terreiro Ilê Axé, que fica na quadra 9 lote 4 no bairro Girassol, em Cocalzinho. “Eu tive de cancelar as sessões aqui por conta dessa abordagem. Imagina se, de repente, chega a polícia? Nossa religião já não é bem vista”, desabafa Fernando.
Segundo ele, as abordagens à sua casa ocorreram quatro vezes só na última semana. A tropa de choque da PM e da Civil de Goiás apareceu até no domingo. “Eles perguntaram se eu conhecia o Lázaro, perguntaram sobre satanismo. Eu sou do Candomblé e não pratico essas coisas. Eu disse a eles. Não satisfeitos, perguntaram sobre um tal de Pai André, de Águas Lindas. Na ocasião eu disse que não o conhecia, mas depois eu soube de quem se tratava”, narrou Fernando de Odé.
Agressão – O alvo da ação policial chama-se André Vicente de Souza, 81 anos, pai de santo num terreiro na Avenida Camargo 529, Royal Parque, de Águas Lindas. Lá, a abordagem foi bem pior. Segundo André denunciou em boletim de ocorrência, os policiais chegaram a agredir o caseiro da chácara.
A abordagem ocorreu na terça-feira (15). Segundo ele, eram todos policiais militares. Sob o pretexto de buscarem informações que levassem a Lázaro Barbosa, apontado como o autor da chacina de uma família de quatro pessoas, em Ceilândia (DF), eles invadiram o terreiro, chegando a maltratar o caseiro.
Mesmo após não encontrarem nada que ligasse o terreiro a Lázaro, os PMs retornaram ao lugar. E com mais truculência. Três dias depois da primeira ação, na sexta-feira (18), os militares estiveram no terreiro do pai André e novamente agiram com violência. “Eles puxaram o caseiro e bateram de novo, com cano de foice. Bateram nas coxas, nádegas, costelas, panturrilha. Ele está todo dolorido”, detalha André.
Terreiros abandonados
Justamente uma semana depois da primeira abordagem policial, na terça-feira (22), a equipe do Brasília Capital esteve no terreiro de André e presenciou uma situação de abandono. Não havia mais ninguém no local. Nem para tomar conta da imensa propriedade situada no Royal Parque. Só estavam lá os cachorros.
A rua, virada para o matagal, comporta ainda outros terreiros de religiões de matriz africana. E somente num foi encontrado a mãe de santo Abadia, dona do terreiro Ogum Nile Bó. “Apesar de ter sido mais tranquila a abordagem, o que a gente sente é o jeito deles (policiais) abordarem”, queixou-se ela.
“Nós não colocamos esse tipo de pessoa (Lázaro) entre a nossa família espiritual. Também estamos com medo dele. A gente não é de outro planeta, não. Você pode ver que as outras religiões não são tão perseguidas quanto a nossa”, lamentou a mãe de santo.
A poucos metros da chácara dela, havia uma viatura da PM de Goiás. O que não se sabe é se estava vigiando o matagal ou os terreiros religiosos na esperança de Lázaro aparecer por lá, o que facilitaria o trabalho da força-tarefa nas buscas ao assassino. Se o criminoso resolver debochar da polícia, porém, vai encontrar as portas dos terreiros fechados. Não por medo dele, mas por medo da polícia.
*Especial para o Brasília Capital
Opinião: Umbanda e Candomblé não são macumba
José Matos (**)
Moradores da localidade onde se busca o marginal Lázaro reclamaram da invasão pela polícia a centros espiritualistas. Há uma crença, por desconhecimento, de que Centros de Umbanda e Candomblé são centros de macumba. Não é verdade. São centros de tratamento e aconselhamento.
No candomblé, as pessoas buscam aconselhamento por meio dos búzios; e na Umbanda, por meio dos guias. Umbanda é religião brasileira fundada com a finalidade de fazer a caridade baseada no Evangelho de Jesus Cristo. Sua criação foi anunciada em 1908 pela Federação Espírita Brasileira.
Já no Candomblé, os mais vividos sabem da excelência que foi Mãe Menininha do Gantois!
(**)Palestrante espírita