O vice-governador Paco Britto acha inoportuno falar de política em meio à pandemia, mesmo em um ano pré-eleitoral. Mas afasta especulações de que seu cargo esteja em leilão para composição da chapa majoritária de Ibaneis Rocha (MDB) em 2022. “Quem está fazendo essa discussão. A quem ela interessa? São pessoas que nos apoiaram na eleição ou vieram no segundo turno?”, cutuca.
Britto não é um vice figurativo Mesmo que ele e seu nanico Avante não sejam grandes puxadores de votos, tem tido papel importante na gestão Ibaneis. Ele coordena algumas ações estratégicas de combate à covid-19, como a construção dos hospitais acoplados que atenderão vítimas da doença, que ficarão como legado para a população do DF após a pandemia.
Nesta entrevista exclusiva ao Brasília Capital, concedida em seu gabinete no Palácio do Buriti na terça-feira (20), véspera do aniversário de Brasília, Paco fala do esforço do GDF em não deixar a economia local parar devido aos cuidados para evitar a proliferação do novo coronavírus. Ele detalha o pacote de 400 obras que geram mais de 30 mil empregos diretos e saúda a aniversariante: “Que venham os próximos sessenta anos!”.
O senhor foi vítima da covid-19. É uma gripezinha? – Não, não é. É uma doença muito séria. E o pós-covid é mais sério ainda. Poderá vir a ser uma gripe forte após a imunização, que terá que ser perene, igual à da H1N1.
Quais sintomas ainda sente mais de nove meses após ser considerado curado? – Ainda tenho um pouco de cansaço. Me afetou muito a memória recente. Esqueço os nomes das pessoas. A gente até brinca que falta um link para ligar os neurônios Tico e Teco. Tem hora que você sabe a palavra, mas não consegue construir a frase.
Passar por esse problema faz com que o senhor se apresente na linha de frente na construção de hospitais para atendimento das pessoas vítimas da Covid-19? – Não se trata disso. É uma obrigação nossa estarmos na rua. É uma missão dos governantes estarem na linha de frente. É uma questão de solidariedade, de empatia, de amor ao próximo. Uma coisa que todos têm que ter.
O brasiliense é solidário? – Muito. Percebemos isso nos hospitais, nas doações que as empresas e as pessoas físicas fazem. Temos o Comitê Contra a Covid, onde as pessoas estão engajadas na solidariedade, no amor ao próximo, na responsabilidade com o cidadão que foi acometido pela doença e com aquele que sofre as consequências da pandemia, como empresários que faliram e os desempregados. A população do DF está engajada em ajudar essas pessoas. Isso é muito bonito!
O governador Ibaneis passou para o senhor a atribuição de acompanhar as obras dos hospitais de campanha e dos acoplados. Qual a diferença entre uma coisa e outra? – Hospital de campanha é uma obra temporária. Supre uma determinada conjuntura e é desmontado em seguida. Os hospitais acoplados serão legados que ficarão para a população. São estruturas definitivas surgidas da parceria do GDF com a iniciativa privada.
E como funciona o Comitê Todos Contra a Covid? – Esse comitê busca doações financeiras para que nós possamos gerir e ajudar a população. Por exemplo: no final do ano passado nós compramos 12 mil cestas básicas que doamos para a Secretaria de Desenvolvimento Social. Também distribuímos mais de dois milhões de máscaras. Temos contado com parceiros fantásticos, como o Sesc-Senac, o Sinduscon, o Grupo Osório Adriano e a JBS, entre outros.
Hospitais são para tratar doentes. Mas o que vai resolver a questão da pandemia é a vacinação. Por que esse processo está tão lento no DF? – Não está lento. Tanto que estamos abrindo pontos de vacinação nos fins de semana e feriados, inclusive no dia do aniversário de Brasília. O que empacou foi Plano Nacional de Imunização, que não está enviando vacinas na quantidade necessária.
O Ministério da Saúde orientou que os estados usassem todo o estoque, garantindo que seria assegurada a segunda dose… – E por que já não repôs tudo? Segundo o secretário Osnei Okumoto, esta semana veio menos doses do que na vez passada.
O senhor coordena o Comitê de Governadores para aquisição de vacinas, entre elas a Sputinik V. Como funciona isso? – Essa negociação está bem adiantada. Chama-se consórcio Brasil Central, que engloba o DF, Goiás, Rondônia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Estamos tratando diretamente com o Fundo Soberano Russo. Mas com muito cuidado, por determinação do governador, para não entrarmos em canoa furada. A vacina pode se tornar o respirador de ontem, pode ser a bomba de infusão de ontem…
Mas vocês vão comprar uma vacina não aprovada pela Anvisa? – Nós também estamos apostando em outros imunizantes. Mas este é que está mais adiantado, porque nós temos uma fábrica aqui, da União Química. Só que a Anvisa está brecando.
O Senado instalou a CPI da Covid, que fará uma investigação ampliada de possíveis irregularidades ocorridas durante a pandemia. Como o GDF vai explicar o desmonte dos hospitais de campanha antes do fim da pandemia? – O hospital de campanha é por prazo pré-determinado.
Não poderia ter prorrogado? – E se tivesse acabado a pandemia, o que o Ministério Público faria com a gente?
Mas, o DF ficou sem os hospitais de campanha no ápice da segunda onda. E já estamos chegando na terceira… – Já chegamos na terceira.
Pois é. E a população penou durante todo esse período sem esses hospitais… – A população penou, né? Então eu devolvo a pergunta: E se nós não desmontássemos ou se tivéssemos mantido e tivesse achatado a segunda ou terceira onda, o que o Ministério Publico faria com a gente? Improbidade administrativa na certa. Então, nós estamos tranquilos. Quem for chamado, com certeza absoluta dará todas as explicações necessárias, sem problema algum.
Vamos falar um pouco de política? O governador Ibaneis praticamente tem o nome consolidado como candidato à reeleição. A discussão é quanto ao vice. O senhor fica nessa posição ou será candidato a deputado? – Primeiro, tem que se perguntar quem está fazendo essa discussão. A quem interessa essa discussão? Quem nos apoiou na eleição? Eles não estavam juntos. Vieram no segundo turno. Eu não gosto de falar de política porque estamos na pandemia. Política tem que vir mais pra frente. Até agora, eu sou candidato à reeleição com o governador Ibaneis. Mas, a partir do momento que ele falar que não quer, não tem problema. Posso procurar meu espaço. Mas, até então, não foi falado pra ninguém. Não foi discutido vice nenhum na chapa.
E as deputadas Celina Leão e Flavia Arruda? – Foi o que falei. Nós estamos no meio de uma pandemia. Falar de política é uma loucura, porque ninguém sabe o que vai acontecer.
Então o presidente da República está louco, porque ele só pensa em campanha o tempo todo? – Se não tivesse a pandemia, eu acho que o ano seria da política. Só que nós estamos no meio de uma pandemia. Temos que salvar vidas. Hoje, o governador Ibaneis Rocha e o vice Paco Britto têm uma missão: salvar vidas sem deixar que o empresariado quebre.
O GDF tem alguma ação concreta de apoio aos empresários para a manutenção de empregos? – Não é alguma ação. Foram várias ações feitas pelo governador Ibaneis Rocha, via BRB, que deram sustentação a essas pessoas, como o Recupera DF, o Prospera DF, Refis. Mas, em alguns momentos, nós precisamos fechar determinadas atividades porque o vírus estava exageradamente disseminando, com altíssimas taxas de transmissão.
É uma gestão feita um dia de cada vez… – Sim. Dia a dia. Tanto é que agora o comércio já pode ficar aberto até as 21h, com a possibilidade de as pessoas chegarem em casa até as 22h, mesmo horário em que é permitida a circulação para entrega de comida. Nós estamos dia a dia analisando. Nós nos reunimos e analisamos os dados.
Vamos passar para um assunto mais leve? Fale um pouco de Brasília, a nossa aniversariante da semana. Qual o prazer e a responsabilidade de ser o vice-governador da Capital da República? – Querida e bela Brasília. Eu não sou candango. Vim para cá com dez anos de idade, em 1974. É uma emoção e uma honra muito grande. Esta cidade me abraçou. Aqui tenho minhas raízes. Tenho orgulho de dizer que meus filhos nasceram aqui. Infelizmente não é hora de fazer festa!
Mesmo assim, o GDF deu alguns presentes para Brasília. Nossa equipe passeou pelo Plano Piloto no fim de semana e encontrou muitas obras na W3, no Setor de Rádio e TV Sul e no Noroeste. Vocês estão dando uma repaginada nessa sessentona? – É verdade. Mas tem muito mais obras. São presentes para essa população tão amável que veio de todos os cantos do país e se uniu no Planalto Central. É a hora de agradecermos a JK, por ter feito essa cidade, por ter tido a coragem de trazer para cá a capital, de interiorizar o desenvolvimento do Brasil.
Agora cabe a todos, especialmente ao governo, cuidar bem dela… – Sem dúvida. Nós temos uma cidade monumento. São muitas obras e arte a céu aberto. Nós temos uma ponte JK, a Ermida Dom Bosco, a catedral. Então, o que falar de Brasília? Precisamos parabenizar os brasilienses que nasceram aqui, as pessoas de fora que têm um coração igual ao meu, que sou candango de coração. Mas, como falei, não é hora de festa. O momento é de nos solidarizarmos com as pessoas que perderam entes queridos em Brasília, no Brasil e no mundo.
Mas, internamente, como o governador Ibaneis pede para a equipe reverenciar a aniversariante? – Devemos sempre exaltá-la ao máximo. É o que nós estamos fazendo. Mas sempre pensando nos que foram atingidos pela Covid-19. Ainda assim, o governador entende que a cidade não pode parar. Nós temos 400 obras em andamento, gerando mais de 30 mil empregos diretos. Estamos girando a economia. Este é o presente que o governo Ibaneis está dando para a população de Brasília. Entregando obras como o Museu de Arte, que estava fechado há 14 anos e está sendo reinaugurado.
E o Teatro Nacional? – O cobertor é curto. Começamos pelo Museu. Estamos revitalizando a W3, o Parque da Cidade. Ou seja, é esse o presente que o governador está dando para Brasília. É essa a resposta do GDF, mesmo na pandemia. Estamos mostrando serviço. Nós nunca fizemos promessas de campanha. Fizemos compromissos que estão sendo cumpridos.
Se o senhor pudesse dar um abraço em Brasília, o que diria no ouvido dessa sessentona? – Que venham os próximos sessenta!