A Polícia Civil de Santo Antônio do Descoberto-GO, a 45 quilômetros do centro da Capital da República, investiga uma denúncia de prática de trabalho análogo à escravidão numa fazenda de eucaliptos da região. O caso foi registrado em Boletim de Ocorrência pelo trabalhador rural Francisco Santos França, 28 anos, assistido pelo advogado Wellington Cardoso, 37. (Leia Saiba+)
Era 29 de março deste ano. Cardoso arrumava seu carro numa oficina na cidade do Entorno de Brasília. Ao seu lado, Francisco perguntava aos comerciantes se conheciam algum advogado que pudesse ajuda-lo. Wellington se identificou e descobriu uma situação gravíssima. O rapaz relatou fatos que não deixaram dúvida: ele trabalhava em condições análogas à escravidão.
Seguindo orientações dos policiais, após registrar a ocorrência, ele voltou à delegacia acompanhado do, agora, seu advogado Wellignton. Ao visitar a fazenda, Wellignton se deparou com condições, no mínimo, precárias. “Dormi aqui por algum tempo, até o caseiro oferecer um espaço em sua casa, sem que o dono soubesse”, disse a vítima, apontando para uma lona azul amarrada em duas árvores. “A comida só dava para uma pessoa. Então, muitas vezes não comi, porque tinha outra pessoa aqui junto comigo”, relatou chorando.
Vaquinha — O escritório WCA Advogados Associados foi além do apoio jurídico. A sócia Rayanne Gobbi, 25, pelo Instagram, mobilizou seus seguidores para arrecadar dinheiro para Francisco voltar para Marabá, no Pará. Em 24 horas, conseguiu o valor suficiente para comprar a passagem e terminar a fuga de Francisco do local em que era praticamente escravizado. O trabalhador retornou para casa na terça-feira (30).
Antes de embarcar, às 8h, o jovem de 28 anos relatou, no Boletim de Ocorrência, que veio para Brasília para trabalhar num acampamento de sem-terra em Santo Antônio do Descoberto. Quando acabou a jornada e se preparava para voltar ao Pará, conheceu o dono da fazenda. “Ele prometeu moradia, alimentação e uma diária de R$ 75”, consta no registro policial.
Francisco relatou aos policias que trabalhava em média 16 horas por dia, das 6h às 22h, durante os 70 dias que foi mantido na fazenda. Aos advogados o paraense revelou que morava com outro jovem, identificado apenas como Danillo. “Ele aceitou a chantagem do dono da fazenda. Recebeu R$ 1.500 e não registrou ocorrência”, informa Rayanne.
O paraense contou que, antes de vir para Brasília, era casado. Mas sua mulher não tem notícias dele há algum tempo. “Ele precisou vender o celular para comprar comida e está sem comunicação com a família”, conclui a advogada.
Saiba+
No Boletim de Ocorrência registrado na Delegacia de Santo Antônio do Descoberto, ao qual a reportagem do Brasília Capital teve acesso, constam dados completos sobre a fazenda de eucaliptos e seu proprietário. A pedido da Polícia Civil, estas informações não são reveladas nesta matéria para não atrapalhar as investigações.