O Brasil passa pelo “maior colapso sanitário e hospitalar da história”. O alerta foi feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na terça-feira (16). No mesmo dia, lamentavelmente, o País registrou novo recorde de mortes pela covid-19 em 24 horas: 2.798 vidas perdidas. Um total de 282.400 óbitos desde o início da crise sanitária. Na quarta-feira, outro recorde: 3.149. E assim sucessivamente, dia após dia. Temo, inclusive, que até este artigo chegar a você, leitor, já tenha ocorrido novo recorde diário de óbitos pela doença.
No DF, a exemplo do resto do País, não é diferente. Em 24 horas, tivemos um recorde de mortes por covid-19 na quinta-feira (18): 68 óbitos. Na contramão disso, a crise na saúde pública da capital inclui agora o escândalo da doação, feita pela China, de máscaras, testes e outros insumos abandonada no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Soma-se a isso o fato de que nem todos os profissionais de saúde foram vacinados: risco para eles, para suas famílias e para pacientes.
Nesta semana, fui ao Hospital Regional de Santa Maria (HRSM), gerido pelo Iges-DF, para uma vistoria da situação no local. Por lá, um paciente positivado para a covid-19 estava com saturação em 90%, precisando de oxigênio, mas aguardava a sua vez sentado em uma cadeira no corredor. Todos os leitos de internação estavam ocupados. E, embora o Iges-DF tenha anunciado, no início da semana, o reabastecimento de suas unidades, a relação de estoque de EPIs apresentada pelo corpo clínico ao SindMédico-DF mostra que esses insumos não chegaram à ponta.
Segundo a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), em nota enviada ao Ministério da Saúde também nesta semana, há risco ainda, nos próximos dias, de desabastecimento de oxigênio hospitalar em todo o País e de medicamentos utilizados nessas vagas. Outra tragédia anunciada. O próprio diretor de Logística do Ministério da Saúde, general Ridauto Fernandes, disse que o oxigênio pode acabar especialmente em pequenos hospitais.
Na avaliação da Fundação Oswaldo Cruz, a única saída para que essa situação seja revertida é “a ampliação das medidas de distanciamento físico e social, do uso de máscaras em larga escala e a aceleração da vacinação”. A instituição afirma também que “os trabalhadores da saúde precisam ser “apoiados e protegidos considerando suas necessidades de saúde mental e o sofrimento psíquico, em suas mais variadas manifestações, que devem ser adequadamente reconhecidas e enfrentadas”.
Digo o mesmo desde o ano passado.
Enquanto ações enérgicas não forem tomadas para conter a pandemia no Brasil – e no DF -, avançaremos somente em números recordes de mortes. Muitos morrerão de morte igual. Ou, nas palavras do poeta João Cabral de Melo Neto, “a mesma morte Severina”, aquela “de fraqueza e de doença, que ataca em qualquer idade e até gente não nascida”. O Brasil precisa se unir em prol da ampla vacinação contra a covid-19.
Isso é política para preservar vidas. O resto é só política.