O jornalista Aydano Motta teria dito, certa vez, que “o ano é apenas um espaço de tempo que separa dois carnavais”. Perguntei ao amigo e colega de profissão, e ele confirmou. Não me restou outra alternativa senão assinar embaixo e correr ao cartório mais próximo para reconhecer firma. E chegou o carnaval! Antes de ser o mais irreverente, alegre, curioso, controverso e plural evento do nosso calendário, o carnaval é, sobretudo, uma festa indomável.
Há muita discussão e polêmica sobre as suas origens. Teria se originado dos ritos agrários das primeiras sociedades de classes do Antigo Egito ou da civilização greco-romana? Esse é o tal do carnaval, que pode ter surgido 10 mil anos antes de Cristo.
De lá para cá, muita, muita coisa aconteceu. E esse espetáculo que contagiou o mundo, a ponto de tornar-se conhecido como “o maior show da terra”, além de toda magia e alegria que produz, é um propulsor de emprego, renda e desenvolvimento social.
Desde sempre, ninguém resiste à musicalidade brasileira. Claro que o momento é delicado e muito complicado. Mas não falo agora de festa ou aglomeração. Falo de tradição, de cultura e, até mesmo, de estado de espírito.
No Rio de Janeiro, ainda na condição de capital do Brasil, por duas ocasiões tentaram proibir e até mudar sua data. Em 1892, a Intendência Municipal (atual Prefeitura), seguindo os conselhos do doutor Castro Leite, que alegava questões de saúde pública, tentou transferi-lo para junho, período mais apropriado por conta do clima mais ameno.
A outra, em 1912, quando, por conta da morte do Barão do Rio Branco, uma semana antes da festa, quiseram adiá-lo para abril. Nas duas ocasiões, a cidade acabou tendo dois carnavais.
O próprio Barão do Rio Branco – tido como um amante da folia de momo e figura de enorme prestígio em seu tempo – teria dito que no Brasil há duas coisas organizadas: o carnaval e a desordem.
Pixinguinha, entrou na igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, em um sábado de carnaval, para batizar o filho de um amigo. Talvez pela sua paz, aos 75 anos, ao chegar perto do altar, enfartou. Seguiu direto para o céu. A lendária Banda de Ipanema, que desfilava pelas ruas do bairro, seguiu para a porta da igreja e, em homenagem ao mestre, tocou“Carinhoso”, em vez de executar amarcha fúnebre, sob o comando de Albino Pinheiro.
Há uns vinte dias, lembro de ter comentado que manteria o meu ritual básico de carnaval, no modo Brasília: encontro com amigos para um bom papo e cerveja; produção de notícias sobre carnaval; desfile das escolas de samba de Brasília (in memorian); comidas típicas: feijoada, rabada, cozido, churrasco, etc.; audição intensificada de muito samba; e acompanhamento integral dos desfiles das escolas de samba do Rio e São Paulo, na sexta, sábado, domingo e segunda-feira.
Eu já estava preparado para buscar desfiles antológicos no YouTube e varar as madrugadas assistindo. Aí, para minha surpresa, uma prestigiada emissora resolveu simplificar minha tarefa: vou assistir aos desfiles na tela da TV no meio desse povo, lá de casa. A gente vai se ver de novo. Talvez, não em um baile de máscaras. Desejo um ótimo carnaval a todos.
Vida longa ao carnaval!
(*) Jornalista