Criada em maio de 2020 com o desmembramento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, a Subsecretaria de Fomento ao Empreendedorismo foi uma tentativa do governador Ibaneis Rocha de proteger os pequenos e microempresários durante a pandemia. A ideia é levar os serviços do governo para mais perto das pessoas que precisam trabalhar para obter alguma renda que assegure a sobrevivência durante a crise, e garantir a manutenção desses negócios. Nesta entrevista ao Brasília Capital, o subsecretário Danillo Ferreira dos Santos, 35 anos, explica o que o novo órgão já conseguiu fazer nesses oito meses e quais os seus projetos para o futuro.
O que melhorou para o pequeno e microempreendedor do DF a partir da criação da Secretaria de Fomento e Empreendedorismo? – A Secretaria surgiu em maio de 2020 justamente como uma resposta do governador Ibaneis Rocha para ajudar na retomada da economia em meio à pandemia. Percebendo que os principais atingidos e prejudicados pela crise foram os pequenos empresários – porque as grandes empresas têm muito capital e gordura para queimar, mas o pequeno empresário, não.Este trabalha no mês já pensando em pagar as contas do mês seguinte.
E o quê a Secretaria conseguiu fazer de efetivo nesse período? – A gente tem investido bastante na capacitação dos empresários. Em 2018, o Sebrae fez uma pesquisa junto à, até então, Secretaria de Desenvolvimento Econômico sobre a maturidade da gestão nas empresas. E identificou, por exemplo, que 70% delas não fazem o planejamento dos seus negócios; mais de 60% não têm controle financeiro. Ou seja, a pessoa não consegue fazer um fluxo de caixa. Confunde a conta da pessoa física com a da pessoa jurídica. E mais de 60% não têm conhecimento sobre o mercado. Não sabe para quem vende, não sabe qual o seu principal produto e nem quem são os seus concorrentes.
Então vocês trabalham em parceria com o Sebrae? – O Sebrae fez essa pesquisa encomendada por nós em 2018. Esse estudo pode nortear o nosso trabalho. Em novembro de 2020, nós fizemos um projeto chamado Semana de Acesso ao Crédito. Levamos de 70 a 80 empresários para o Simplifica PJ de Taguatinga e os capacitamos sobre essa tomada do crédito, ensinando como eles devem apresentar um plano de negócio e as suas ideias para os gerentes. Levamos para esse evento, o BRB, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, para tentar conectar o empresariado aos principais bancos públicos.
Quantos negócios foram fechados nesse evento? – Pelo menos 10 empresários conseguiram ter acesso ao crédito por causa do evento, que a gente conectou ali.
Vocês têm incrementado esse trabalho junto as Associações Comerciais locais, como a ACIT, em Taguatinga? – O Simplifica PJ é como se fosse o Na Hora empresarial. São mais de 10 órgãos, como a Secretaria de Empreendedorismo, a Administração Regional (naquele caso, de Taguatinga), a Secretaria do Trabalho, para falar do Prospera, que é um fundo de microcrédito. Também levamos o pessoal do DF Legal, do CRC (Conselho Regional de Contabilidade). Então, se o empresário chega lá com dúvidas contábeis, tem um contador para auxiliar, e diversos outros órgãos ali para destravar a vida dele. Portanto, quando ele chega com qualquer problema no Simplifica PJ, existem vários órgãos e várias entidades dispostos a solucionar o problema dele.
Qual é o principal público-alvo desse trabalho? – A gente tem feito um trabalho principalmente nas cidades- satélites, porque é o onde se concentra o maior número de pequenas empresas. Nós temos estabelecido parcerias com entidades representativas. Por exemplo: em Águas Claras, que tem a vocação na área gastronômica, nós estivemos com o pessoal da Administração e da Associação Comercial e já estamos programando um evento para os empresários da cidade, em parceria com a Abrasel, para a segunda quinzena de março. Então, nós estamos conectando diversas pontas para tentar levar soluções para que os empresários possam se beneficiar.
E o quê vocês têm feito pelo empreendedorismo nas comunidades de baixa renda, como Estrutural, Itapoã…? – Vou te dar dois exemplos. Nós pegamos, em parceria com o Instituto Eva, a partir de uma emenda parlamentar do deputado Hermeto (MDB), e desenvolvemos o projeto Mulheres Empreendedoras, na Candangolândia. Nesse projeto nós capacitamos 300 mulheres com 5 cursos diferentes: manicure, pedicure, design de sobrancelhas, extensão de unhas e secretariado executivo. Essas mulheres foram capacitadas tecnicamente durante um mês e meio. Esse curso será finalizado agora, no dia 14 de fevereiro. Fizemos uma parceria com o Sebrae e com a Administração Regional e essas mulheres já foram orientadas a fazer o Microempreendedor Individual, ou seja, se formalizarem. Com a formalização do MEI, a gente já contatou o BRB, que esteve lá para abrir microcréditos de R$ 2 mil, R$ 3 até 5 R$ mil para essas empreendedoras.
Tem mais coisas em vista? – Dia 22 de fevereiro vamos lançar o projeto Cidadão Empreendedor, também tocado por uma emenda parlamentar. Esta do deputado Eduardo Pedrosa (PTC). Vamos capacitar 250 pessoas na área de empreendedorismo. O valor das duas emendas foi de cerca de R$ 500 mil cada. Nós temos procurado bastante a Câmara Legislativa no sentido de conseguir capital para tocar os projetos, porque, como a Secretaria de Empreendedorismo é muito nova, não tem orçamento. É basicamente só a folha salarial. Se não usarmos a criatividade, vamos ficar reclamando da vida, sem conseguir resolver as coisas. Além dos deputados Hermeto e Eduardo Pedrosa, já tivemos apoio da Jaqueline Silva (PTB), do Rafael Prudente (MDB) e da Júlia Lucy (Novo). A Júlia Lucy mandou, para 2021, mais de R$ 800 mil, e nós já estamos analisando alguns planos de trabalho que serão executados com a receita das emendas dela.
Como funcionam essas receitas de emendas parlamentares? – O parlamentar manda pra gente de forma genérica, por exemplo, R$ 1 milhão para capacitação. No decorrer do ano, ele pode ir destinando, ou seja, falando: “Secretaria, eu quero que vocês coloquem R$ 100 mil no projeto aqui da ASTEPS, que é a associação das startups”. Nós vamos fazer um projeto com a ASTEPS, para capacitação profissional de R$ 150 mil, da Júlia Lucy. Eu recebi um ofício, que é o Qualifica DF, também voltado para mulheres, com cursos como de manicure, depilação, massagem, corte e barba. Então, no decorrer do ano, os parlamentares vão fracionando essa verba de acordo com os projetos que são levados aos gabinetes deles.
Você poderia ensinar um passo-a-passo para as pessoas que queiram empreender e precisam de algum suporte do governo? – Para as pessoas que querem empreender, ou seja, que querem abrir seu negócio, o primeiro passo é se capacitar, buscar informações, procurar conhecer o mercado no qual elas desejam se inserir. Caso contrário, é como dar um tiro no escuro – você não sabe onde quer acertar. A primeira coisa que você tem que saber é onde você quer chegar. Assim, a Secretaria de Empreendedorismo tem uma Unidade de Atendimento ao Empreendedor, onde qualquer futuro empresário ou empresário que precise de ajuda, na área de capacitação, para desburocratizar sua vida empresarial, pode nos procurar.
É só presencial ou pode ser pela Internet? – Pode ser pela internet também, pelo site www.empreender.df.gov.br, temos um perfil no Instagram (@empreender_df). Também temos a Unidade de Apoio à Mulher Empreendedora (UAME). Temos feito um trabalho muito forte com as mulheres, porque tivemos acesso a algumas informações que nos deixaram muito preocupados.
Que tipo de informações? – De que a maioria das mulheres que sofre violência doméstica e não consegue sair da situação, é dependente financeira dos seus companheiros. Então, a mulher sofre violência física e psicológica, mas não sai de casa porque não vai conseguir se manter. Aí, na cabeça dela, o cara pode ser a pior pessoa do mundo, mas é quem mantém o teto e quem coloca comida dentro de casa. Então ela fica dependente disso. Outro dado que chamou atenção quando fomos estudar o perfil socioeconômico da população do DF, é que em mais de 50% dos lares das classes C, D e E são liderados por mulheres solteiras.
É o mesmo perfil identificado há 30 anos quando o governo Roriz criou o programa de assentamento para distribuir lotes para famílias de baixa renda… – Exatamente. Porque a mulher é a guardiã da família, isso os dados nos mostram. Então a gente tem martelado muito nessa tecla. Por isso, a Secretaria de Empreendedorismo tem uma unidade de atendimento focada na mulher empreendedora. Entendemos que se a mulher conquistar a liberdade financeira, ela conseguirá qualquer coisa. Conseguirá ser o que ela quiser. Nossa Secretaria de empreendedorismo está de portas abertas para auxiliar todas as pessoas a iniciar um pequeno negócio.