O Brasil deverá fechar esta semana com a triste marca de 1 milhão de pessoas contaminadas e 50 mil mortos pela covid -19. Se consideradas as subnotificações decorrentes da escandalosa subtestagem e dos registros em atraso, estima-se que sejam mais de 2 milhões de contaminados e cerca de 80 mil mortos. Em apenas 3 meses, o que Bolsonaro chamou de gripezinha terá matado o dobro que a gripe espanhola – a pior pandemia do século XX – vitimou no Brasil em um ano e meio, e gerado a mais grave crise econômica da história do país.
Embora Bolsonaro negue, este sinistro legado vai, sim, cair em seu colo. Afinal, seu desgoverno deverá responder por três crimes: a) omissão e absoluta falta de articulação intergovernamental no planejamento de ações tempestivas de combate à disseminação do vírus, e pior, estimulou o contágio com a pregação contrária ao isolamento social; b) omissão e falta de planejamento no efetivo apoio a estados e municípios na dotação de equipamentos médico-hospitalares necessários ao socorro à população mais gravemente infectada; e c) atraso e precariedade na adoção de medidas voltadas para mitigar o impacto econômico decorrente do isolamento social, não socorrendo de forma efetiva e tempestiva as empresas (notadamente as micro e pequenas), que paralisaram suas atividades, assim como aos trabalhadores formais e informais, obrigados a se afastarem das atividades laborais.
Em suma, se o descaso do governo federal no trato da pandemia gerou consequências dramáticas na área da saúde pública. Na área econômica os resultados são igualmente devastadores. Tenho recebido críticas de economistas
liberais por ter previsto, há três semanas, que o PIB brasileiro poderia ter queda de até -10% neste ano, sendo que o governo estima a queda em -4,7% e o mercado em -6,25%. Mas as recentes projeções do Banco Mundial (-8,0%) e da OCDE (entre -7,1% e -9,4%) parecem corroborar com meu prognóstico.
Durante toda a pandemia, a atuação de Bolsonaro tem sido marcada pelo descaso e leviandade no trato do problema, mas a gota d’água foi a recente incitação para que seus apoiadores invadissem hospitais para filmar supostos leitos de UTI sem ocupação. Não se trata aqui de duvidar de órgãos de imprensa, de governadores e prefeitos, mas dos profissionais de saúde, que têm colocado suas vidas em risco, e dos próprios pacientes, aumentando o risco de contaminação. É preciso dar um basta a tamanha irresponsabilidade.
(*) Ex-presidente da Codeplan e do Conselho Federal de Economia