Em tempos de pandemia, precisamos ter todos os cuidados e atenção a tudo que o fazemos e o que não fazemos. Sempre alertas à possibilidade de estarmos em ambientes infectados com o novo coronavírus, causador da covid-19, doença pode nos levar a um triste fim.
Interessante observar que nossas sociedades, desde as mais simples até as mais sofisticadas, estão passando por um momento de perplexidade, sem respostas e sem soluções para deter esse vírus. Cientistas, instituições e governos lidam, constantemente, com vários tipos de epidemias que rondam a saúde dos seres humanos. A história registrado várias, como foi a peste negra, a malária, a dengue, a aids e outras doenças.
Os governantes não deveriam estar surpresos com a covid 19. Problemas de infraestrutura, de educação e saúde pública são antigos. As sociedades estruturadas em classes sociais não só dividem, mas beneficiam uma elite e mantém em péssimas condições de vida os trabalhadores. E se não valorizam a vida de todos, não dividem a riqueza com todos.
O bem-estar da elite tem levado a um processo incessante de exclusão e um incentivo absurdo a um endeusamento do dinheiro e da propriedade. A consequência é o aumento da desigualdade econômica, política e social. O coronavírus encontrou o ambiente propício para crescer e se espalhar na sociedade de classes sociais que divide seres humanos em ricos e pobres, em quem pode pagar por atendimento médico e quem não pode.
Ainda assim, causa estranheza, pois, sem as respostas e soluções para essa pandemia, tudo é ameaçado. E se a morte dos pobres antes não era tão importante, agora passa a ser notícia e causa alvoroço. E está em todos os jornais, fotos de cemitérios e caixões estão nas mídias. Dormimos pensando na morte e acordamos ávidos para saber sobre ela.
O coronavírus chega a uma cidade e começa a matar. A preocupação passou a ser de todos, inclusive das elites, pois não podem mais passear, ir a restaurantes, ao cinema. Não podem gastar dinheiro. Os patrões não podem explorar os trabalhadores que morrem aos milhares sem atendimento médico e hospitalar.
Nesse sentido, a vida começa a ser valorizada em toda a sua fragilidade nessa curta passagem pelo planeta. Será hipocrisia, oportunismo, quando os governantes e as elites falam em preocupação com todos? A vida, agora, pode ter um parâmetro histórico, como dividimos a História em Pré-História, Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea. Agora teremos de dividir a história do significado da vida em antes e depois desta pandemia.
Lições e atitudes podem ser tomadas, em especial, pelos trabalhadores, dispostos a aprender e a lutar por um novo modo de vida. Ao organizarem-se e começarem a derrubar tudo que desvaloriza a vida ao longo de uma história excludente e sangrenta e que não deixa espaço ao verdadeiro significado da palavra Vida. Pensar e querer, ter vontade de mudar, e não ter ilusões.
Uma mudança dessa envergadura não será obra iniciada por quem sempre lucrou e foi elite nessa sociedade. As elites, após descobrirem um modo de acabar com a pandemia, logo tomarão as rédeas da situação e farão tudo para que não haja mudanças. A volta à normalidade, de antes, não pode existir. Seria anormal e uma desonra aos milhares de trabalhadores que estão morrendo.
Se há dúvida quanto à palavra “vida” é só lembrar da máxima que adestra milhões de trabalhadores em todo o mundo, o discurso de quem nos criou: “Então, formou, o Senhor Deus, o homem, do pó da terra; e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida; e o homem passou a ser alma vivente”. De graça concedida, tornou-se privilégio. Ora, isso não pode continuar. Atrevo-me a dizer que solidariedade, igualdade e amor a todos os seres da Terra é o verdadeiro significado da Vida. Vale a pena lutar!
(*) Professor aposentado de História e Geografia da SEEDF