Quem planta vento, colhe tempestade. No caso do Brasil, os chefões do agronegócio, que apoiam Jair Bolsonaro, vão precisar, em breve, encontrar outro comprador para a sua soja. Cansado dos ataques de integrantes do governo brasileiro e da família do Presidente da República, o país asiático resolveu retaliar. Vai substituir as importações da soja brasileira pelo produto dos Estados Unidos.
Ainda no domingo (6), o ministro da Educação, Abraham Weintraub, ao participar de uma live no Facebook ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente, voltou a dizer que o novo coronavírus é uma criação chinesa, acusaram o país asiático de esconder informações sobre a covid-19 e de querer dominar o mundo com a doença. Melhor para os EUA, que abocanharão uma fatia do mercado fornecedor aos chineses hoje ocupada pelo Brasil. A conferir se isto agradará os ruralistas bolsonaristas.
No sábado (4), o diário Xin Jing Bao, de Pequim, noticiou uma coletiva sobre “segurança e suprimento alimentar” de um diretor do ministério da agricultura da China. A entrevista foi convocada “porque muitas pessoas se preocupam que a soja importada do Brasil venha a ser afetada”. O ministro Wei Baigang afirmou que “as importações do Brasil não foram afetadas em março”, mas que as importações dos EUA devem crescer, agora que “a primeira fase do acordo comercial sino-americano foi implementada”.
A China comprou US$ 31,01 bilhões em produtos agrícolas brasileiros em 2019, segundo a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). É o principal parceiro comercial do Brasil. Em segundo lugar vem os Estados Unidos (US$ 7,18 bilhões).
Segundo a coluna de Nelson de Sá, na Folha de S.Paulo, o tabloide Huanqiu/Global Times ironizou: “Presidente brasileiro convoca jejum para se livrar do pecado”. Na rede CCTV, “três epidemias estão para acontecer ao mesmo tempo no Brasil”, citando dengue e gripe, além da covid-19.
Assim, em meio à pandemia mundial, o governo Bolsonaro consegue complicar ainda mais a situação, ao brigar com a China.
Patrões – Para o jornalista Leonardo Attuch, do Portal 247, “um dos maiores erros dos analistas políticos no Brasil é dividir o governo Bolsonaro entre uma ala de ministros técnicos, uma ala militar e uma suposta ala formada por ministros ‘ideológicos’, que teria como principais representantes Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e Abraham Weintraub, da Educação – os ministros “olavistas” que seriam protegidos pelo deputado Eduardo Bolsonaro, que por muito pouco não foi indicado embaixador do Brasil em Washington”.
“Volta e meia, há quem diga que Ernesto Araújo e Abraham Weintraub são ‘loucos’ ou ‘burros’. Nem uma coisa nem outra. Ambos sabem muito bem o que estão fazendo e conhecem também as consequências de seus atos. Sabem que, no limite, o Brasil poderá sofrer retaliações econômicas da China. O que interessa à dupla é agradar aos patrões. E ambos sabem que Bolsonaro deve sua eleição ao pesadíssimo esquema de fake news desenvolvido pela extrema-direita estadunidense e por Steve Bannon – um personagem que já declarou que o Brasil é o principal território em disputa por Estados Unidos e China”.
Globo – Na mesma live em que atacou a China, Abraham Weintraub afirmou que o governo está preparando a cassação da concessão da TV Globo. “Tem uma rede de televisão que ela não sobrevive até 2023. Ela deve aos tubos, porque não pagou imposto, não vai ter certidão negativa pra renovar concessão. Ou ela paga um buzilhão de imposto que ela nunca teve que pagar ou ela não renova concessão, porque não vai ter certidão negativa”, disse.
Conforme Weintraub, a família Marinho, dona da emissora, sabe que o governo vem buscando formas para cassar a concessão pública, o que justificaria os ataques para que Jair Bolsonaro deixe o poder. Para o ministro, a família Marinho sabe disso e, por esse motivo, “a luta deles é de vida ou morte contra Bolsonaro”.
E ainda insistiu que o corona “é um vírus chinês”, e que outros vírus chineses virão, porque “eles comem tudo o que o sol ilumina”. A embaixada da China publicou nota, na madrugada de segunda-feira (6), rebatendo Weintraub e dizendo que os ataques resultarão em prejuízos para a economia brasileira, além de vetos à importação de equipamentos médicos chineses pelo Brasil.
Cebolinha – No fim de semana, Weintraub ainda tuitou uma imagem – o post já foi removido – do personagem Cebolinha, da Turma da Mônica, na Muralha da China, fazendo alusão ao fato de o personagem trocar o “r” pelo “l” e insinuando que seria uma forma de falar do povo chinês.