A reforma da Previdência é uma realidade para os servidores públicos federais e trabalhadores da iniciativa privada. Com a extensão do período de atividade laboral, é seguro dizer que boa parte do contingente de trabalhadores submetidos às novas regras não vai chegar ao fim de carreira. Muitos vão ficar pelo caminho, incapazes de continuar trabalhando e com ganhos reduzidos devido ao modelo de cálculo estabelecido pelas novas regras. Pode-se aduzir outros efeitos em cascata a partir daí.
O tema da aposentadoria é uma das pautas da agenda sindical e, inclusive, a previdência complementar dos servidores públicos do DF será objeto de uma palestra no Sindicato dos Médicos no dia 22 de janeiro.
Retomando a questão da reforma, vamos analisar um aspecto relacionado à área da saúde: Plano de saúde para o idoso é caro e vai se tornar inacessível para uma parcela significativa dos aposentados. Boa parte das operadoras de planos pode quebrar, prejudicando também quem tem condição de pagar. O Sistema Único de Saúde (SUS), que já sofre com baixo financiamento, ficará ainda mais sobrecarregado e demandará investimentos maiores. Adequações são necessárias.
No Chile, onde a reforma foi feita na década de 1980, para manter um padrão de vida aceitável, uma multidão de aposentados assume novos empregos ou passa a desenvolver atividades remuneradas informais. Sobre a informalidade, o jornal Estado de São Paulo publicou a seguinte manchete em novembro deste ano: “Emprego informal derruba produtividade da economia brasileira”.
A questão da empregabilidade após os 50 anos ganha novo vulto com a perspectiva de aposentadoria tardia. Pesquisa da consultoria Robert Half comentada em matéria do Correio Braziliense, em outubro, mostra que 69% das empresas não contrataram trabalhadores acima dessa idade motivadas por valor do salário, pouca flexibilidade, desatualização, risco de ampliação de conflitos entre gerações, apesar de estar havendo um aumento na procura de vagas de emprego por pessoas nessa faixa etária.
Poderíamos seguir elencando outros tantos aspectos da repercussão dessa reforma, que me evoca a imagem de uma cebola colossal, com camadas intermináveis.
Individualmente podemos nos preparar recorrendo a planos privados de previdência, desenvolvendo a cultura da poupança ou aprendendo sobre investimentos – ressalto que a previdência complementar tem que ser feita a partir da juventude. No âmbito grupal, resta-nos considerar desenvolver padrões de convivência mais solidários e evoluir na cultura do compartilhamento.
O fato é que cada um de nós e o conjunto da sociedade estamos diante de um desafio e temos que aplicar toda a nossa criatividade e empenho para garantir que, daqui a 30 anos, não estejamos repetindo a atual crise chilena.