Pollyana Villarreal
Foto: Reprodução CNTMCentrais
sindicais do grupo de países de economias emergentes formado por Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) divulgaram, quinta-feria (19), a
Declaração Final do VIII Fórum BRICS Sindical: O Futuro do Trabalho, os
Direitos Sociais, o Multilateralismo e a importância dos BRICS. Na reunião,
discutiram o impacto das novas tecnologias no mundo do trabalho.
Na
Declaração, elencam nove itens que os cinco países devem adotar para patrocinar
um mundo mais justo. Dentre eles, a necessidade de reconhecimento do Fórum Sindical
dos BRICS, a consolidação do bloco como espaço multilateral que vise a
contribuir para a redução das desigualdade sociais e econômicas do mundo; e a
consolidação do multilateralismo como modelo para garantir um mundo mais
igualitário.
Entre
os itens das reivindicações, saúdam a criação do Novo Banco de Desenvolvimento
(NDB), reivindicam melhorias na legislação laboral dos países dos BRICS e
consideram fundamental que as reformas, os avanços tecnológicos e científicos,
bem como o desenvolvimento econômico, estejam efetivamente a serviço da
humanidade.
Durante
o evento, os sindicalistas declaram que, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva estiver preso, a democracia estará gravemente ameaçada. A reunião
do BRICS Sindical ocorreu nos dias 18, 19 e 20 de setembro, no auditório do
Ministério da Economia, em Brasília. A Declaração Final será apresentada aos
ministros do Trabalho e Emprego dos BRICS.
Miguel Torres, com o secretário do Trabalho, Bruno Dalcolmo, do Ministério da Economia, e Serginho.
Foto: Reprodução CNTMA
reunião dos ministros do Trabalho e Emprego do BRICS aconteceu na quinta (19) e
na sexta-feira (20), no Ministério da Economia. Eles discutiram também o
trabalho e o emprego no grupo dos países emergentes. O BRICS Sindical destaca a
importância do multilateralismo para enfrentamento dos desafios do mundo do
trabalho, como indica a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Trabalhadores Precarizados
No
entendimento dos sindicalistas que participaram do evento, “a criação do BRICS
simbolizou um avanço na transição de um mundo unipolar para um mundo mais
equitativo, contribuindo, assim, para o fortalecimento do multilateralismo, que
é essencial na promoção de sociedades mais justas e democráticas”.
Destacaram
que a situação atual do mundo é marcada por grandes desigualdades e consideram
que a dimensão social está em declínio. “Na última década, os salários dos
trabalhadores aumentaram apenas 2% ao ano. E, segundo a OIT, apenas 45% da
população mundial está coberta em, pelo menos, um âmbito da proteção social, e
somente 29% têm acesso a uma proteção integral”, indica o documento.
“As
novas tecnologias atingem vários campos das relações do trabalho de forma
diferente em cada caso”, explica Antônio Lisboa Amâncio Vale, professor de Geografia
e História da rede pública de ensino do Distrito Federal, diretor da Central
Única dos Trabalhadores (CUT) do Brasil e representante eleito dos
trabalhadores no Conselho de Administração da Organização Internacional do
Trabalho (OIT).
Na
avaliação de Lisboa, o que existe, de fato, é uma combinação de
desregulamentação das relações do trabalho com o uso de novas tecnologias. Isso
tem gerado trabalho precarizado em todas as áreas da ação humana. Apenas uma
parcela pequena dos trabalhadores será reconhecida pelo seu trabalho, mas,
somente aqueles que tiverem altíssimo grau de especialidade.
“A
educação, por exemplo, vive hoje no avanço da precarização. Há, no setor, um
intenso processo de cooperativização, terceirização e privatização que vai
piorar as condições de trabalho e de vida dos professores”, explica. Ele
reconhece a 4ª Revolução Industrial como evolução da humanidade, que afeta
todos os campos da ação humana e modifica todo tipo de relação no planeta. “Mas
é usada de forma negativa contra os trabalhadores”.
Ele
ressalta que os benefícios da produtividade gerada a partir das novas
tecnologias não estão sendo colocados à disposição dos trabalhadores, uma vez
que a ideia é aumentar a produtividade e trabalhar menos. “O que acontece é que
estamos trabalhando muito mais. Se não houver uma mudança de enfoque, de
abordagem e de direção para o uso das novas tecnologias, ou seja, em favor da
humanidade, será criada uma situação insuportável”.
“Se
continuar assim, teremos uma pirâmide em que, no topo, haverá uma pequena faixa
de trabalhadores qualificados, que vão ganhar muito bem; no meio, uma enorme
faixa central, que ainda está em crescimento, de trabalhadores precarizados,
que são os jovens entregadores de comida de Aplicativos (Uber Eats, Rappi,
iFood), que trabalham de 10 a 12 horas, de segunda a domingo, para faturar mil
reais por mês, sem nenhum direito trabalhista, como férias, previdência,
descanso semanal; e, na base da pirâmide, uma imensa maioria de
‘não-trabalhadores’ que não tem acesso aos meios”.
Tecnologia avança sobre o mundo do
trabalho
Para
Rodrigo Rodrigues, diretor da CUT Brasília, a 4ª Revolução Industrial é o
avanço das tecnologias sobre a produção e o mundo do trabalho, que tem como
característica principal a precarização do trabalhador como força construtora
da riqueza, haja vista o processo atual chamado de “uberização”.
“Um
exemplo disso são os motoristas por aplicativos, como o Uber. Temos vários
exemplos de que isso está acontecendo em outros setores, como na educação, como
a convocação de professores temporários a partir de aplicativos. São
remunerados pelas aulas e minutos em que se dedicam àquele trabalho. Isso é uma
precarização imensa. É uma forma de desvalorizar o trabalho, as profissões e a
identidade do trabalhador como uma categoria profissional”, destaca.
Antônio
Lisboa diz que, no caso da Educação, os professores já estão vivenciando essa precarização
decorrente das novas tecnologias. Como as informações são reproduzidas de forma
muito fácil e acelerada, isso exige dos educadores, assim como de todos os
trabalhadores, uma permanente, constante e diária pesquisa e atualização do
conhecimento, tanto para divulgar novos conhecimentos como para questionar fake
news.
“Um
exemplo disso é o caso dos chamados terraplanistas. A rigor, gente que
acreditava que a Terra é plana sempre existiu. O problema é que hoje, como a
informação chega muito rapidamente às pessoas, essa fake news acaba ganhando
maior proporção e até adeptos”, observa o sindicalista.