Primeira mulher a
comandar a Procuradoria Geral da República, Raquel Dodge conclui o mandato na
terça-feira (17). Ela concederá uma entrevista coletiva para fazer o balanço de
seus dois anos de gestão.
Na quinta-feira (12),
Dodge se despediu dos ministros do Supremo Tribunal Federal com um discurso de
próprio punho que culminou com um apelo aos magistrados extensivo a toda a
Nação. A voz embargada era o reflexo de seu sentimento:
\”Protejam a democracia brasileira, arduamente erguida em caminhos de avanços e retrocessos, mas sempre sobre norte que a democracia é o maior modelo para construir uma sociedade de maior desenvolvimento humano\”, disse.
A procuradora afirmou,
ainda, que nos últimos dois anos, à frente do Ministério Público Federal, se
empenhou no combate à corrupção e contestou críticas à atuação dela em casos da
Operação Lava Jato.
\”A maior parte das
peças que ajuizei no STF está sob segredo de Justiça, e no tempo próprio elas
expressarão o empenho com que eu trabalhei no enfrentamento da corrupção
naquilo que me cabe de atuação originária no STF e no Superior Tribunal de
Justiça\”, afirmou.
Dodge disse que deu \”toda a estrutura necessária\” para a atuação dos integrantes do MP na Lava Jato e que apoiou \”todas as iniciativas\” dos procuradores. \”Tenho certeza de que dei a eles toda a estrutura necessária para o enfrentamento à corrupção”.
A PGR disse que ampliou o
número de procuradores em todas as forças-tarefas da Lava Jato, no Paraná, no
Rio de Janeiro e em São Paulo. “Nenhum pedido dos procuradores da Lava Jato foi
indeferido. Pelo contrário, muito foi fortalecido\”.
Ao abordar os riscos à
democracia no País, Dodge se emocionou: \”Muitas coisas às vezes acontecem
em ondas, há avanços e também retrocessos. Percebo, com alguma preocupação, muitos
sinais de retrocesso no tocante às democracias liberais no mundo e eu espero
que isso não aconteça no Brasil\”.
\”Eu me empenhei muito para trabalhar nessas áreas mais nodais, achando que fazendo assim a gente conseguiria fortalecer essa promessa de sociedade que está na nossa Constituição\”, disse com a voz embargada.
O indicado pelo
presidente Jair Bolsonaro para substituir Dodge é Augusto Aras. Ele será
submetido a sabatina na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e
depois por votação no plenário da Casa.
Que ele tenha a grandeza
de seguir o conselho de sua antecessora, garantindo que \”ninguém esteja acima
ou abaixo da legislação\”. E entenda a importância de proteger o meio
ambiente e as minorias, como povos indígenas e ciganos.
Legado ficará na história
Ao saudar Raquel Dodge, o presidente do STF, Dias Toffoli, afirmou que o legado dela “ficará na história do Supremo, do Ministério Público e da Justiça brasileira”.
Ele ressaltou que, além
de ser a primeira mulher a chefiar a PGR, “Raquel Dodge tem sido firme e
corajosa na missão de promover a efetivação dos direitos das pessoas e de
proteger a ordem jurídica e constitucional”.
Para Toffoli, Dodge
chefiou a PGR na defesa de valores como os direitos e das liberdades das
pessoas e no combate à corrupção. “Ressalto o aprendizado auferido na
convivência e a gratidão à Vossa Excelência pela dedicação com que exerceu suas
nobres e desafiantes atribuições nos últimos dois anos”, completou.