Sim, ainda dá tempo de nos levantarmos, seja para gritar ou, simplesmente, num gesto tresloucado e último de humanidade, elevarmos nossas mentes em favor da vida que pulsa em cada folha, em cada rio, em cada bicho, em cada índio, em cada um de nós. Naquele continente verde, santuário solapado, saqueado e vilipendiado, queimado pelos gananciosos, teremos que erguer o altar da consciência, o monumento da razão fincado no coração da floresta!
A selva me chama! Eu que nasci e cresci na simplicidade da fartura no opulento estado do Tocantins, a experimentar a docilidade dos muricis, das mangabas, dos cajás, dos buritis, dos cajus e do gosto exótico do cupuaçu, este último sempre preparado em forma de creme pelo meu pai, sinto a convocação silenciosa das matas que um dia me serviram de berço. Eu que naveguei pelo rio Amazonas, entre Manaus e Parintins, em tempos de reportagem, sei muito da importância das águas límpidas e das reservas naturais para os povos da região.
A palmeira de açaí, plantada em meu quintal, parece balançar mais forte quando passo perto dela. E me vem o impulso, o desejo atávico de falar diante do clamor sutil da palma. Ela parece sussurrar aqui dentro e a dizer: ei, vocês aí do asfalto e do conforto das almofadas, não vão dizer nada sobre a escalada do fogo, da biopirataria de produtos, riquezas e conhecimentos na Amazônia? Vão deixar que destruam tudo?
Impotente diante da força do capital, dos negócios, da mercancia, apenas lembro daquele provérbio indígena: \”só quando a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for poluído é que o homem perceberá que não poderá comer dinheiro\”.
(*) Jornalista e escritora