A fixação dos integrantes do governo Bolsonaro em atacar todos aqueles que não se alinham com sua ideologia beira a patologia. Isto ocorre em praticamente todas as áreas, desde a segurança, com a liberação de armas; a preservação ambiental, com o desmonte do Ibama e do Inpe; até a educação e cultura, por meio de ataques à memória de brasileiros ilustres que deixaram importantes legados à Humanidade. Tal comportamento, aliás, tem causado prejuízos à imagem do Brasil no exterior.
Semana passada, em entrevista às páginas amarelas da revista Veja, o ministro da Educação, Abram Weintraub, voltou a denegrir a importância do educador pernambucano Paulo Freire (1921-1997). Provavelmente, Weintraub não tenha lido sobre a obra do pedagogo pernambucano. Mas é possível que conheça o samba “Moleque atrevido” do cantor e compositor carioca Jorge Aragão.
O refrão da música pede: “respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”. E Paulo Freire, com sua Pedagogia do Oprimido, chegou longe. Suas ideias são reverenciadas em centenas de países. O brasileiro recebeu nada menos de 29 títulos de doutor honoris causa concedidos por universidades da Europa e das Américas.
Se, antes de atacar Freire, o ministro tivesse tido o cuidado de dar uma “googada” – para usar um termo atual de usuários de redes sociais, tão cultuados pelo atual governo – no nome do educador, teria lido: “não é arbitrária a consagração de Paulo Freire como patrono da educação brasileira. O educador pernambucano revolucionou a pedagogia do País ao refletir sobre a construção de uma escola democrática e uma nova abordagem na relação entre educador e educando, que colocava como base do aprendizado a troca horizontal de saberes e experiências”.
Com um simples clique, Weintraub ficaria sabendo que “Paulo Freire continua extremamente atual. A leitura de sua obra permite amadurecer conceitos como a necessidade de uma educação praticada a partir de uma perspectiva crítica e autônoma para a formação de sujeitos capazes de transformar politicamente e socialmente suas realidades”.
No mesmo link, aliás, consta um guia preparado pelo Centro de Referências em Educação Integral com a bibliografia completa e gratuita para quem quiser se aprofundar sobre o legado de Paulo Freire. Estão disponíveis títulos como Educação como prática de Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Cartas à Guiné-Bissau, A importância do ato de ler em três artigos que se completam, Educação e Mudança, Educação e a realidade brasileira, Pedagogia da esperança e tantos outros.
Weintraub, momentaneamente ocupando o cargo máximo da Educação no Brasil, talvez, por exigência da agenda de ministro, não encontre tempo para visitar Paulo Freire. Mas, como bom internauta que parece ser, poderia acessar o YouToube e parar dois minutos para ouvir Jorge Aragão: “somos da linha de frente de toda essa história (…) / Não se discute talento / Mas seu argumento me faça o favor! / Respeite quem pôde chegar onde a gente chegou”.