Fotos: Fernando Frazão/Agência BrasilNovos trechos de mensagens do procurador Deltan Dallagnol obtidas
pelo site The Intercept Brasil e divulgados pela Folha de São Paulo na
quinta-feira (1º) mostram que o procurador da força-tarefa da Lava Jato em
Curitiba, Deltan Dallagnol, estimulou uma ofensiva contra o atual presidente do
Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli. O material sugere que Dallagnol
recorreu à Receita Federal para levantar informações sobre o escritório de
advocacia da mulher do magistrado, Roberta Rangel.
O chefe da força-tarefa começou a
manifestar interesse por Toffoli em julho de 2016, quando a empreiteira OAS negociava
um acordo para colaborar com a Lava Jato em troca de benefícios penais para
seus executivos. No dia 13 daquele mês, Deltan fez uma consulta aos procuradores
que negociavam com a empresa, incentivando colegas em Brasília e em Curitiba a
investigar o ministro sigilosamente. À época, Toffoli era visto pela força-tarefa como
um adversário disposto a frear o avanço da Lava Jato.
Deltan buscou informações sobre
as finanças pessoais de Toffoli e de sua mulher e evidências que os
ligassem a empreiteiras envolvidas com a corrupção na Petrobras. Mas ministros
do STF não podem ser investigados por procuradores da primeira instância, como
Deltan e os demais integrantes da força-tarefa. A Constituição diz
que eles só podem ser investigados com autorização do próprio tribunal, onde
quem atua em nome do Ministério Público Federal é o procurador-geral da
República.
\”Caros, a OAS trouxe a questão
do apartamento do Toffoli?\”, perguntou no grupo de procuradores no
Telegram. \”Que eu saiba não\”, respondeu o promotor Sérgio Bruno
Cabral Fernandes, de Brasília. \”Temos que ver como abordar esse assunto.
Com cautela\”. Duas semanas depois, Deltan procurou Eduardo Pelella, chefe
de gabinete do então procurador-geral, Rodrigo Janot, para repassar informações
que apontavam Toffoli como sócio de um primo num hotel no interior do Paraná,
sem indicar a fonte da dica. No dia seguinte, 28 de julho, o chefe da
força-tarefa insistiu com o assessor de Janot. \”Queria refletir em dados
de inteligência para eventualmente alimentar Vcs\”, escreveu. \”Sei que
o competente é o PGR rs, mas talvez possa contribuir com Vcs com alguma
informação, acessando umas fontes”.
\”Vc conseguiria por favor
descobrir o endereço do apto do Toffoli que foi reformado?\”, perguntou
Deltan. \”Foi casa\”, respondeu Pelella, que dias depois informou o
endereço do imóvel.
Em suas primeiras reuniões com os
procuradores da Lava Jato em 2016, os advogados da OAS contaram que a
empreiteira havia participado de uma reforma na casa de Toffoli em Brasília. Os
serviços tinham sido executados por outra empresa indicada pela construtora ao
ministro, e ele fora o responsável pelo pagamento.
O ex-presidente da OAS Léo
Pinheiro, que disse ter tratado do assunto com Toffoli e era réu em vários
processos da Lava Jato, afirmou a seus advogados que não havia nada de errado
na reforma. Mesmo assim o caso despertou a curiosidade dos procuradores.
Duas decisões de Toffoli no STF
tinham contrariado interesses da força-tarefa: ele votara para manter longe de
Curitiba as investigações sobre corrupção na Eletronuclear e soltara o
ex-ministro petista Paulo Bernardo, preso pela Lava Jato em São Paulo.
As mensagens obtidas pelo Intercept
não permitem esclarecer se alguma investigação formal sobre o ministro do STF
foi aberta, mas mostram que Deltan continuou insistindo no assunto mesmo depois
que um vazamento que obrigou os procuradores a recuar.
OUTROS ALVOS –
Toffoli não foi o único alvo da Lava Jato na cúpula do Judiciário. As mensagens
obtidas pelo Intercept mostram que Deltan também usou a delação da OAS para
tentar barrar a indicação de um ministro do STJ, Humberto Martins, para a vaga
aberta no STF com a morte de Teori Zavascki em 2017. Quando o nome dele
apareceu na imprensa como um dos cotados para a vaga, Deltan procurou Pelella
para sugerir que o procurador-geral Janot alertasse o então presidente Michel
Temer de que ele era um dos alvos da delação de Léo Pinheiro.
\Ӄ importante o PGR levar ao
Temer a questão do Humberto Martins, que é mencinoado na OAS como recebendo
propina\”, disse Deltan. \”Deixa com \’nós\’\”, respondeu Pelella. O
chefe da força-tarefa de Curitiba sugeriu que o assessor de Janot conferisse os
documentos anexados pela OAS à sua proposta de colaboração, mas depois se
lembrou de que a Lava Jato não recebera até então nenhum relato escrito sobre
Martins. Mesmo assim, Deltan insistiu com Pelella para que avisasse o
presidente.
OUTRO LADO – A
força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba afirmou que é seu dever
encaminhar à PGR informações sobre autoridades com direito a foro especial no
STF sempre que as recebe, e que isso tem sido feito de forma legal. E não fez
comentários específicos sobre o conteúdo das mensagens obtidas pelo The
Intercept Brasil, que revelam iniciativas de Deltan Dallagnol para levantar
informações sobre os ministros Dias Toffoli e Gilmar Mendes, além de suas
respectivas mulheres.