Um convênio com a
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) vai permitir o uso compartilhado
das vias férreas visando a implantação do trem regional. Não se empolgue
leitor, isso é em Curitiba. A cidade que na década de 1970 implantou o BRT,
planeja agora usar as linhas férreas que cruzam a região metropolitana para
implantar linhas regionais e urbanas de trem com o uso da tecnologia do Veículo
Leve sobre Trilhos (VLT).
Por aqui no Planalto
Central, diria um mineiro, esse trem não anda. O VLT prometido por Ibaneis
Rocha para rodar em fase de teste no final de janeiro, chega a julho sem
nenhuma perspectiva. Ficou no rol das promessas de campanha não materializadas.
Em Curitiba, os vagões da CBTU vão compartilhar os trilhos do transporte de carga para implantar o trem regional.
Foto: Divulgação/CBTU
Em Curitiba, serão
avaliados três ramais ferroviários, atualmente usados pelo transporte de
cargas. Em Brasília, a insistência ainda é o BRT, tecnologia da década de 1970.
Três linhas tiveram as obras iniciadas, mas nenhuma foi concluída.
A linha da EPTG foi a
primeira, ainda no governo Arruda. A pista exclusiva foi implantada, mas,
passados cinco governantes (Arruda, Rosso, Agnelo, Rollemberg e Ibaneis) nenhum
deles se lembrou de comprar os ônibus com portas dos dois lados.
Um BRT pra cada governador
Sem uso e abandonado é a estação da Candangolandia.
Foto: Chico Sant\’AnnaEm 2010, Agnelo Queiroz preferiu
fazer o seu próprio BRT. Gama e Santa Maria estão interligados com o Plano
Piloto, mas uma perna do BRT-Sul, que atravessa a Candangolândia, passa pela rodoviária
interestadual e chega à Estação Sul do Metrô, não foi concluída, impedindo a
integração Metrô-BRT.
Rollemberg também quis um
BRT pra chamar de seu, e deu início à linha Norte. Passados três anos, o Trevo
de Triagem Norte – a um custo de quase R$ 200 milhões -, ainda está em execução
e faltam muitas obras para que o BRT chegue a Sobradinho e Planaltina.
A solução rodoviarista
escolhida por Rollemberg custaria, há três anos, R$ 996 milhões, valor que não incluía
a aquisição dos ônibus do BRT que irão trafegar nessa linha. Atenção gestores!
Não se esqueçam dos ônibus!
Nesse meio tempo em que
nada andou, quem ficou efetivamente parado foi o metrô, o VLT e o trem regional
para o Entorno Sul. Há quase uma década, a linha atual do metrô já poderia
estar chegando ao Setor O da Ceilândia, à Expansão de Samambaia e ao Hran, na
Asa Norte.
Os recursos foram
liberados no governo Lula ao governador Arruda e depois disponibilizados novamente
pelos sucessivos governos. Mas todos os governadores citados acima perderam as
oportunidades de contar com verbas federais para tocar as obras. Perderam
também cerca de R$ 250 milhões (valores da época) para a implantação da
primeira etapa do VLT ligando o Aeroporto a Asa Sul e fazendo integração com o
metrô.
A Capital Federal perdeu,
desde 2009, a injeção de pelo menos R$ 1,2 bilhão para implantar um serviço de
mobilidade urbana de qualidade e, de carona, reduzir o desemprego no DF, que
não para de crescer.
Dinheiro de metrô para BRT
O prejuízo ainda foi
maior, pois Agnelo preferiu usar o dinheiro destinado para construir a linha 2
do metrô, ligando Gama à antiga rodoferroviária, para implementar o BRT-Sul,
que rendeu R$ 208 milhões em superfaturamento dos preços, como já demonstraram investigações
da Polícia Federal.
Os moradores do Gama e de
Santa Maria ficaram sem sua linha de metrô e padecem até hoje com um precário
sistema de BRT. Os recursos superfaturados do BRT-Sul seriam suficientes para
ligar de VLT o aeroporto à estação Sul do metrô, no Setor Policial Sul, ou
fazer o metrô chegar até a Asa Norte.
Trem Regional
A alternativa para quem
mora no Gama e em Santa Maria seria a adaptação da linha férrea do trem
Bandeirante – entre Luziânia e Plano Piloto – em um trem regional. Assim como
Curitiba pretende fazer.
Em 2014, estudo da Sudeco
estimou essa adaptação em R$ 260 milhões, a terça parte do que se gastou no
BRT-Sul. Uma composição do trem do Entorno seria capaz de transportar o que dez
ônibus articulados transportam. Sem falar na quantidade de pessoas que
deixariam em casa seus carros particulares.
No Entorno Sul vivem mais
de 500 mil pessoas e a grande maioria depende do DF para estudar e trabalhar. Mas
esse trem também não anda. Sabe-se lá que interesses econômicos estão por trás
dessa paralisia.
Serão as empresas de
ônibus, que não querem perder passageiros? As concessionárias de automóveis?
Postos de Gasolina? As empreiteiras que compraram muitas projeções em cidades
satélites e que veriam seus investimentos reduzirem com a potencialização de
moradias no Entorno? As brigas de vaidade política entre governantes goianos e
candangos?
O certo é que o apito do
trem só soa quando leva e traz mercadorias para o DF. O governador tem apostado
em factoides que dão manchete mas não resolvem o problema do transporte
coletivo, como ônibus sem motorista e carro elétrico de aluguel.
De uma coisa o
brasiliense pode estar certo: o trem regional – para não falar no Expresso
Pequi até Goiânia – não sai do papel pelo menos até finais de 2020, pois nenhum
centavo foi alocado na Lei de Diretrizes Orçamentárias do GDF com esse
propósito.
Se houvesse vontade
política, pelo menos algum trocado teria sido previsto no orçamento de 2020.