João Bosco Borba (*)
Uma das condições quando estamos no mundo dos adultos é tomar
decisões sobre qual o melhor caminho a seguir. Isto acontece também nas
decisões entre as nações, onde o impacto de uma decisão pode atingir
várias gerações.
No meu entender, o acordo União Europeia e Mercossul terá reflexos
diretos por décadas junto à população brasileira. Quando nos debruçamos sobre
a História do Brasil, existe uma lógica que se arrasta há séculos, onde a
riqueza do nosso país tem como beneficiário apenas 3% da população, perpetuando uma
lógica que persiste desde o tempo das colônias: os ricos cada vez mais ricos, e
os pobres cada vez mais pobres.
Enquanto o rendimento médio per
capita mensal dos mais ricos em 2017 foi de R$ 6.629, o dos mais pobres foi
de R$ 376. O grupo dos 10% mais ricos concentra 43,1% da renda do país. De uma
forma geral, o grupo dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África
do Sul) representa mais de 40% da população mundial, com mais de três bilhões
de pessoas, na sua maioria jovens.
Os cinco países membros do Brics têm um passado e presente sociais muito
semelhantes, de superação da miséria. Apenas a título de exemplo, de 1958
a 1962, nada menos de 45 milhões de chineses morreram de fome. Pouco mais de
meio século depois, a China caminha para ser a primeira economia do mundo nos
próximos anos.
Por outro lado, esses países apresentam sucessivos aumentos no IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), no PIB (Produto Interno Bruto) e na renda per capita. Nos últimos anos, foram
responsáveis por cerca de 55% do crescimento econômico mundial, cenário no qual
os países desenvolvidos contribuíram com apenas 20%.
Esse bloco econômico – o Brics – detém 70% do petróleo, do gás, da
água, do minério e do ouro do planeta. Mais de 40% das florestas agricultáveis
do concentram nesses cinco países, além de um respeitável exército e arsenal
bélico.
A nossa aliança com os Brics traria um desenvolvimento sustentável onde
o benefício econômico resultaria em mais saúde e educação para nosso povo. Garantiria
melhoria do transporte, acesso a novas tecnologia – afinal, a sua maioria dos
países do bloco tem uma história de enfrentamento da miséria com
desenvolvimento econômico e social.
O acordo UE e Mercosul reforçará a lógica de um Brasil exportador de
comodities onde o benefíciário serão os 3% de brasileiros mais ricos,
e não a população como o todo. Ir atrás do primo rico (a Europa) é pegar a
contramão da nova ordem social, que é desenvolvimento com igualdade social.
(*) Consultor Internacional de
Negócios de África e Mercosul