João Bosco Borba (*)
Consultor Internacional de Negócios de África e Mercosul/Arquivos
A
dúvida quanto à grafia de Brasil com \”S\” ou com \”Z\” tem
como pano de fundo a questão: que país queremos construir? Um país autônomo,
forte e independente, ou um país fraco e dependente? Se analisarmos à luz das
bases do acordo entre a União Europeia e o Mercosul, teremos a dissolução quase
imediata das indústrias da Argentina e do Brasil, onde reside o maior parque
industrial do Mercosul. E os efeitos devem ser mais graves sobre a economia
brasileira, a maior do bloco.
E
por que o Brasil assina um Tratado de Livre Comércio com a União Europeia
nesses termos? Basicamente, porque não temos uma elite, e sim uma classe
dominante com forte herança escravocrata e atualmente com raízes
fundamentalistas com verniz ideológico. Esse acordo foi uma concessão do governo
brasileiro devido à fragilidade da gestão Bolsonaro no cenário mundial,
conjugada com a maior crise econômica da história da Argentina.
Podemos
começar analisando este acordo pela taxa de juros, que tem um efeito direto no
produto final das indústrias. A taxa de juros na Euro é 1/6 menor que a do
Brasil. E lá, o parque industrial possui tecnologia de ponta, três gerações à
nossa frente.
A
Alemanha, por exemplo, tem 42% do PIB na área de tecnologia. Portanto,
exportaremos commodities e importaremos produtos industrializados, o que
configura a receita mais antiga de
domínio econômico desde o Brasil Colônia. Ao assinar este acordo, o que nos
resta é vislumbrar um cenário de um roteiro de filme de terror para indústria
brasileira. Se não, vejamos:
A) A União Europeia sempre trabalhou no intuito
de manter cotas de importação máximas para produtos agropecuários para os seus
produtores;
B) O Brasil tem a intenção de diminuir a
possível entrada de produtos
industrializados, para desenvolvimento da nossa indústria, acrescentando valor
agregado aos nossos produtos;
C) O acordo foi formulado de forma nebulosa para
futuras negociações. A imposição de cotas, ou \”barreiras sanitárias\”,
na prática funciona como defesa do Mercado Europeu, enquanto abre o Mercosul aos
produtos europeus com alto valor agregado;
D)
Ganha o agronegócio com menor valor agregado no Brasil, que usa menos mão de
obra, fazendo com que a riqueza fique mais concentrada; e
E)
Perdem os Industriais brasileiros, que não terão estrutura para se manter em um
patamar competitivo, devido ao alto grau de competividade dos europeus, visto
que não irão produzir com valor agregado suficiente, perdendo o mercado do
Mercosul, hoje 60% ocupado por produtos brasileiros.
Assim,
os Industriais brasileiros que gostam de ser chamados de ‘liberais’ e defendem
o ‘Estado Mínimo’, vão experimentar o liberalismo do Primeiro Mundo no máximo
em cinco anos. E suas empresas se transformarão em meras sucatas. Diante disso a reflexão se torna necessária:
afinal, queremos um Brasil com “S” ou um Brasil com “Z”? Reflitamos!
(*) Consultor Internacional de Negócios de África e Mercosul