Tornei-me admirador de Fernando Pinto nos anos 1980. Eu era operador de telex, profissão extinta. Ele, repórter especial do Correio Braziliense. Mas me tratava de igual para igual. Eu cursava Jornalismo no Ceub e, às vezes, saíamos juntos para a Asa Norte. Antes da minha aula, sentávamos no Canoeiro, bar que também não existe mais, onde éramos servidos por Tarzan, um excelente garçom. Comíamos caranguejos e bebíamos cerveja, após abrirmos os trabalhos com Domecq.
Ele nunca tomou mais que duas doses de conhaque. Gostava do sabor e não do efeito da bebida. Fernando passou a chefe de reportagem e, sempre que podia, me escalava para fazer matérias com as visitas que procuravam o jornal em busca de algum tipo de divulgação. E me instruía sobre como escrever os textos. Verdadeiras aulas práticas, melhores do que as da faculdade. Na vida turbulenta da profissão, tomamos rumos diferentes, mas nunca deixamos de nos comunicar.
Quando o Brasília Capital ainda engatinhava, se ofereceu para escrever a crônica semanal, o que muito me honrou e engrandeceu nosso semanário. Foram sete anos e 348 colaborações inéditas, que ele enviava às segundas-feiras. Cumpriu a “pauta” inclusive quando sofreu um infarto e ditou a crônica, no leito do hospital, para a repórter Wanúbia Lima. Certa vez, sem que houvéssemos combinado, nos encontramos em Salvador. De férias, ele rabiscava a crônica, à mão, no hall do hotel.
Há duas semanas, porém, o velho repórter começou a sair de cena. A metástase do câncer chegara ao fígado. Quinta-feira (21) fui visitá-lo no hospital. Ele apertou minha mão, balbuciou a palavra “chefe” e me olhou nos olhos. Foram o último olhar e aperto de mãos. À noite, partiu. Dias antes, num breve momento de melhora, pediu à filha Fernanda para comer tacacá (acima). Em casa, contou até o último momento com o carinho da família e de seu grande amor, Leda Sampaio (ao lado). Vá em paz, amigo e mestre. Leve minha saudade eterna. Até um dia!