Acordar cedo, enfrentar ônibus lotado, trabalhar o dia todo e voltar para casa de novo em coletivos cheios e desconfortáveis. Esta é a realidade de 54% dos brasilienses que diariamente vão das cidades-satélites para o Plano Piloto. Em média, essas pessoas perdem duas horas e meia no deslocamento casa-trabalho-casa.
Estes dados foram apresentados ao governador Ibaneis Rocha, que determinou como uma das prioridades de sua gestão Investimentos em modais coletivos, como metrô e trens. O estudo da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) aponta que 39,6% da população usam ônibus e 37,7% utilizam carro particular em seus deslocamentos. O metrô transporta 3% e 1,29% prefere a bicicleta. Motocicletas transportam 2% e 11% dos brasilienses declaram que andam a pé.
Isto significa que cerca de 1 milhão de pessoas utilizam ônibus e micro-ônibus como principal meio, segundo o Anuário do Transporte do DF. Brasília tem uma frota de 3 mil ônibus que atendem 967 linhas em todas as regiões administrativas.
Micro-ônibus – No 21º dia do governo, Ibaneis entregou 63 novos micro-ônibus. Os veículos fazem parte da renovação da frota e substituirão ônibus antigos. A ampliação e renovação da frota fazem parte da estratégia do GDF para melhorar a qualidade dos serviços oferecidos aos usuários.
Frota chegará a 3 milhões de veículos
Mesmo com esforços do governo em estimular modais mais sustentáveis, há uma tendência de crescimento da frota de veículos particulares. A previsão é de que, até 2025, o DF terá 3 milhões de veículos – um carro para cada 1,6 habitante. Atualmente, 1,7 milhão de veículos transitam pelas vias congestionadas e em mal estado de conservação.
Todos os anos são emplacados cerca de 50 mil carros no DF, de acordo com o Detran. “Temos aqui quase um automóvel por habitante. A cidade vai parar. Não há investimento em infraestrutura que acompanhe o crescimento da demanda da população. É necessário repensar toda a relação entre pessoas e a cidade”, alerta a ambientalista e membro do Partido Verde do DF, Rayssa Tomaz.
Para ela, este caminho poderá nos levar ao colapso. “A frota de carros cresce, mesmo em cenários de recessão e crise econômica. O carro era visto com um bem, um status social. Com o passar dos anos, o governo começou a estimular o uso de novos tipos de transporte, mas ainda não chegamos nem perto do ideal de as pessoas usarem modais mais sustentáveis, diminuíssem seus trajetos e reduzissem o fluxo de carros, para conter a perda de qualidade de vida e a emissão de gases poluentes”.
GDF quer criar Zona Azul
A cobrança por o uso de estacionamentos públicos no centro de Brasília e a criação de bolsões de estacionamentos nas novas estações do Metrô, que devem estar em pleno funcionamento nos próximos meses, serão medidas estratégicas para que o transporte público se torne opção para um maior número de brasilienses.
Além dos investimentos na frota da ônibus, o Metrô e o trem de passageiros para Luziânia (GO) têm ganhado cada vez mais investimentos e atenção dos gestores públicos. O DF deve ganhar mais três novas estações de metrô, que se somarão às 24 já existentes. As obras das estações do Cine Brasília, da 110 Sul e da Estrada Parque, iniciadas na gestão Rollemberg, devem estar em pleno funcionamento nos próximos meses, ampliando o atendimento dos 160 mil usuários diários.
Trem – Com 31 vagões e 1,2 mil funcionários, o metrô tem um percurso de 42,3 quilômetros de linhas que ligam o Plano Piloto ao Guará, Águas Claras, Taguatinga, Samambaia e Ceilândia. Outra novidade anunciada por Ibaneis é a retomada do projeto de trem de transporte de passageiros de Brasília a Luziânia. As viagens experimentais começam em março. Hoje, a demanda represada de passageiros do Entorno é de cerca de 80 mil pessoas.
Viagem
A bancária Lays da Silva, 28 anos, mora em Samambaia Sul e trabalha em Sobradinho. Ela vai de metrô até a Rodoviária do Plano Piloto e de ônibus ao destino final. Grávida de sete meses, Lays conta que seu trajeto é “ uma viagem diária de um lado ao outro do Distrito Federal”.
“ Todos os dias meu marido me deixa na estação do metrô, um pouco distante da minha casa. Eu pego o metrô em Samambaia Sul até a estação da Asa Sul, onde ficam os ônibus para Sobradinho. Os vagões, no horário que eu embarco, já estão sempre cheios. Impossível de entrar. Eu desço no terminal, na estação Asa Sul, e pego ônibus já vazio, porque ainda não passou em nenhuma parada e no contra fluxo do tráfego” comenta.
A volta, com o cair do dia, oferece mais perigos para os passageiros. Lays conta que fez adaptações em sua rota para evitar a área central de Brasília. “Na volta, em Sobradinho, eu costumo pegar o ônibus na rodoviária, um pouco mais vazio, ficando lotado no percorrer do percurso. Na 102 sul, eu desembarco para pegar o metrô. Prefiro esta estação por medo de andar na Rodoviária, onde eu já vi muitas situações de risco e crimes. Eu gasto da minha casa até o trabalho 1h30, ou seja, 3h por dia para ir trabalhar e voltar”, finaliza a bancária.