O verso da canção “Luís Inácio”, de Herbert Vianna, gravada pela banda Os Paralamas do Sucesso, no início dos anos 1990, foi inspirada numa declaração do então ex-deputado federal Luís Inácio Lula da Silva (PT-SP). Durante uma palestra para empresários em Rondônia, ao responder a uma pergunta da platéia, Lula disse que no Congresso Nacional havia “uns 300 picaretas com anel de doutor”.
Passados mais de vinte anos, o próprio Lula está no centro de um dos maiores escândalos de corrupção da história do Brasil, investigado pela Operação Lava Jato, que já levou centenas de pessoas para a prisão e recuperou R$ 3 bilhões para os cofres públicos. Mas, como todo político citado e suspeito em qualquer denúncia, o agora ex-presidente da República nega envolvimento e insiste na própria honestidade.
Se Lula é inocente ou culpado das acusações de que é alvo, caberá à Justiça decidir. Nomeado há duas semanas ministro da Casa Civil, ele ainda não assumiu suas funções devido a uma enxurrada de recursos impetrados contra o ato da presidente Dilma Rousseff. E só saberá o seu futuro a partir de quarta-feira (30), quando a Suprema Corte volta de recesso e poderá votar sua entrada ou não no atual governo.
Grampeados em conversa telefônica, Lula e Dilma insistem que o diálogo que teve o sigilo levantado pelo Justiça e divulgado pela imprensa era “republicano”. Porém, a oposição aponta que tratava-se de uma combinação para dar a Lula foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal e, assim, escapar da mira do juiz Sérgio Moro, responsável pelas investigações da Lava Jato em 1ª instância.
Nesse imbróglio, o próprio Sérgio Moro é questionado pelos aliados do governo petista de fazer vazamentos seletivos e, de certa forma, poupar políticos ligados à oposição. Tudo ia indo muito bem até a publicação dos áudios da conversa Dilma-Lula, com autorização do juiz, que não consultou o STF. A presidente recorreu ao Supremo, que deve se pronunciar nos próximos dias sobre a legalidade ou não da publicização dos áudios.
Enquanto isso, Lula ganha tempo para articular politicamente. Parte do PMDB, que parecia unido no desembarque do governo, já acena com a possibilidade de manter seus cargos (seis ministérios) na Esplanada e dar a Dilma os votos necessários para que ela escape do impeachment. Sinalizações nesse sentido foram dadas pelos senadores Renan Calheiros (AL, presidente da Casa) Jader Barbalho (PA), e pelo ex-senador José Sarney (AP), que tentam esvaziar a reunião do diretório nacional do PMDB, marcada para terça-feira (29).
Mas o que abalou mesmo a classe política foi a divulgação da chamada “Lista da Odebrecht”. Na terça-feira (22), tornaram-se públicas algumas planilhas apreendidas na casa do presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto da Silva Júnior, o “BJ”, na 23ª etapa da Lava Jato, em 22 de fevereiro, batizada de Operação Acarajé.
Nada menos de 316 nomes foram citados. Sérgio Moro tratou de decretar segredo de Justiça sobre a relação, alegando “prematura conclusão quanto à natureza desses pagamentos”. Mas, em plena era de internet, a relação dos possíveis beneficiários de repasses da maior empreiteira do País correu mundo. Nega daqui, desmente dacolá, estão todos enredados no mesmo pagode. E aí, meu irmão, se gritar pega ladrão, não fica um, diria Bezerra da Silva.
O Brasília Capital disponibiliza no seu site a lista completa da Odebrecht. Acesse www.bsbcapital.com.br. Mas, citamos aqui alguns dos mais conhecidos políticos supostamente beneficiados com dinheiro (lícito ou ilícito da Odebrecht), inclusive com seus apelidos postos pelos distribuidores das propinas ou das “contribuições para campanhas”.
Alguns dizem que está tudo declarado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas outros, aparentemente, são “Caixa 2”. O portal satírico www.sensacionalista.com.br fez algumas legendas para justificar os apelidos apostos em frente aos nomes dos impolutos políticos. Confira alguns nesta página.
\”Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou
São trezentos picaretas com anel de doutor
Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou\”
Será que Lula tinha razão?
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